maio 20, 2008

A chuva. Lira III.

Lira III

Ouve-se barulho da chuva e poças!
Como cacos e mais cacos a se chocar,
Turbilhões de sentimento, fossas...
Amargura em água doce ou em mar!
A chuva ainda é fria e dolorosa.
A alma em sua tristeza a queimar!
Um fogo escoando em água amistosa...
Um sonhar, que nunca será um sonhar.

Corrosões na terra, a água a explodir.
O céu cinza é o escudo do temor.
A tempestade, violência e dor a cuspir,
Nestes seres sem piedade e emoção,
Uma demência vem do céu, sem intenção,
Para punir os animais na incursão
Que fizeram aos terrenos da imaginação...
Quando ainda havia neles algum pudor.

Continua a chuva... Chuva branda,
Num céu sem esperanças, cujo valor,
Ainda que perfumado com lavanda,
Só pode ser sentido na ausência!
Quando da chuva tudo for torpor,
Existirá a ausência, e não existência.
A chuva demonstrará o tal valor...
Que jamais foi sentido com calor.

A chuva molha os sapatos velhos!
Os velhos males da sociedade molhados,
Molhados estão também os espelhos,
Que refletem as vidas animais, culpados.
Destes que da chuva não podem sentir.
Os que esquecem dos seus dos fados,
Esquecem que a chuva é para ouvir,
São sentimentos para ser capturados.

É a chuva o começo, o meio e o fim!
É o pesar, a alegria, a tristeza e a sorte!
É um lago de amenidade e jasmim...
Coberto por flores de emoções.
É a chuva até a vida e a morte,
Um complexo de sonhos e sensações,
Que nascem no céu bem ao norte,
E permanece para expurgar a alma forte.

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