abril 30, 2022

Soneto do Amor Infindo

Amo-te tanto, e tanto e tanto
Que sinto e muito sem dizer.
E digo, quedado em pranto,
Que amo, amor, com prazer.

Porque amar-te é guerra,
que travo cedo e tão logo
em abrolhos de minha terra,
na quimera que é teu jogo!

Amo-te tanto e intensamente,
Que chega a doer-me a mente;
de pensar além do benfazejo;

Pois é tudo quanto amo presente,
e tudo quanto quero um desejo...
de amar-te hoje eternamente!

março 29, 2021

A partida

Eis que a primeira partiu
e ninguém chorou a dimensão
daquele ato isolado e bufão
que inaugurou e sumiu!

Eis que dez mil partiram
e poucos e poucos e poucos
sentiram a dor dos outros
Poucos, bem poucos sentiram.

Eis que cem mil amargaram
e alguns ousaram inconstância 
enquanto pairava ignorância...
e incompetências reinavam!

Eis que trezentos apagaram
trezentos mil... “paciência”
“Deus é quem dará a regência”
No terceiro dia, só abafaram!

Eis que então alguém gritou
e no alto de sua pura razão
mirou o genocídio do capitão
que ria do barco que virou!

Dessa forma nasceu a tragédia,
Num dia claro, de noite quente 
num dia amargo pra toda gente
Sem recado e sem comédia!

No fim, um partiu, e partiram!
Se partiram e partiram o céu,
e durante a noite fria de Abel
ninguém agiu e todos morreram.

No terceiro dia

Ninguém prometeu salvação,
nem privou a vida dos infiéis,
enquanto ruía o céu em papéis
de consolo, dor e lamentação.

As valas sendo plantadas
em árvores de futurologia
e  ninguém mais respondia
às vidas caídas e passadas!

Quem não esperou o terceiro
Ou, quem sabe, o sétimo dia,
Ou o sétimo selo, ou coveiro...

Ou astros da nova picardia
das suposições metafísicas
das invenções metaquânticas.

outubro 09, 2020

Viver

Espalha-se pela relva o odor,
a opulência, a inanimação
do que jamais fez-se ação,
no relativismo vil e incolor.

Há-de se falar em gustação,
da servil juventude decaída,
cuja morte é serva da vida,
e a vida é retalho-extinção!

Gustação que não há, Adão!
É tudo perversão indevida,
castigo ao bondoso-coração,

pretérito verbo sem saída,
para além da mera negação
do “não-deve” viver a vida!

Velório

No negrume terror da solução,
Uns riem outros tantos a chorar,
Varridos pelo doril instaurar
Da intempestiva escuridão.

Os ponteiros já desgastados
Pelas lamúrias bem reunidas,
Daqueles que em suas vidas
Estão pelo termo soçobrados.

Quiséramos calcular a razão
Daquilo que sem razão existe,
Pois o tempo em si persiste,

E não dignifica a sua exclusão
para além de tudo que resiste,
e não se mantém a percepção.

(17/03/2018)

março 15, 2020

Síndrome

Aponta-se o dedo.
A língua, o não sei o quê
de palavras, letras e sons.

Aponta-se a crença,
a resposta desnuda,
o ódio revigorado de fé.

Aponta-se o irracional,
a máscara dos mascarados
de incolor compostura.

Aponta-se tudo sem piedade,
e esquece-se da síndrome
que assola o moderno homem...

A Síndrome moderna
que deita ao lado da criança
e beija a santa mulher...

A Síndrome que escolhe
o pobre nome, o nome...
do pobre... do homem.

A Síndrome que aponta
o sem-rumo, que consome...
A Síndrome da Fome.

julho 07, 2017

Verbo

A quem se dirige todos os verbos,
versos cultos fadados ao silêncio.
Inculto, porém, é o tempo líquido,
que nada vislumbra. Nada teme.
A aurora vítrea reluz a incerteza
daquilo que ninguém preza.
O tempo é líquido, e líquida
a vida que se encerra.
O verbo é tormento, fogo-fátuo!
A quem se dirige? A quem?
O verbo é célula-tronco
que regenera e transforma.
O verbo é perdição!
O verbo é perdição,
do que se perde entre perdas.
O verbo líquido é ignorado,
e na ignorância deixa de ser.
O verbo já não é.

Ligeireza

As tempestades atordoam,
fragmentos de consciência frugal.
Ninguém perde o sinal.

fevereiro 17, 2017

setembro 30, 2016

Eu deixei o mundo cair

Eu deixei o mundo cair,
e esperei flores violetas.
Eu deixei a vida resumir
em pregações sem marretas.

Abduzi seres estranhos,
e com eles percorri o nada.
Vivíamos valores tacanhos,
sem rumo, sem vida, sem estrada.

Eu deixei o mundo cair,
e plantei jardins de solidão.
Eu deixei o mundo cair,

e percorri aquela destruição,
apenas para ver-me ruir,
sem mundo, sem flores, sem perdão.

setembro 29, 2016

Poderia

Poderia eu estar só e esgotado,
perecendo na solidão da tempestade.
Poderia ter me isolado,
ou poderia ter perdido a sanidade.

Poderia percorrer o mundo inteiro,
viajar a algum inóspito vilarejo.
Poderia esquecer-me marinheiro,
ou viver em guerra de sertanejo.

Poderia recorrer à violência,
deixar-me inútil e inativo.
Absorver a impureza da ciência,

ou privar-me de qualquer consciência.
Poderia até fingir que é tudo tuitivo,
só não poderia fingir que não vivo.

setembro 13, 2016

Infinito dentro de mim. Parte 9: Contrectação.

Agouros recriavam a impoluta sensação
D’uma alma desprendida e perturbada.
Era amor-objeto, era apenas ilusão,
Esse infinito perverso em mente acabada?

Quisera que fosse apenas, e só, amor,
E que perdida estivesse qualquer desilusão.
Viveria daquele mar de amor ou paixão,
E seria amante até que a vida tomasse cor.

Em solo infértil não nasce flor, aconselhavam.
Mas ele era completamente a própria obstinação.
Teria aquele amor, cujos olhos castigavam,

Inclusive a custo de sua própria perdição.
Cego de desejo vendeu-se ao querubim,
pela contrectação do amor infinito dentro de mim.

Cuiabá-MT - 14/08/15

Infinito dentro de mim. Parte 8: Conluio.

Caíra, sem alma na desilusão e na tristeza.
Chorara lágrimas, Colombina, sem amor.
Pierrô já não mais sorria, era somente furor
Amargura e angustia. Homem da frieza.

Colombina, princesa das trevas, se feriu
Com o amor negro de seus olhos arfantes.
Gritava – com toda voz – aos amantes
Os uivos que do martírio carrasco ouviu.

Perdida, chorava à vida ingrata e cruel.
Fazia das lágrimas convocações ao querubim,
Para que ele a levasse para longe do fel...

Propôs um trato – dentro do medo sem fim,
Propôs entregar alma vossa, em palavra e papel,
Pelo amor que urgia: "infinito dentro de mim".


(10/10/08 – MG)

setembro 15, 2015

Atlas

Atlas diria, talvez, que não é o peso,
mas o sentimento além dele a tortura.
Carregar o céu pode não ser loucura,
mas não manterá ninguém ileso.

No desabrochar do sentir indefeso,
reagimos ora com pena, ora com dor,
ora simplesmente sem nenhum calor,
ora conformado, ora perdido, ora preso.

Por mais que digam da liquidez,
jaz ali a eternidade num momento.
E quem sabe sentir a sensatez

n'um agudo pesar de ressentimento,
sabe apenas que nada sabe, talvez,
pois desconhece o puro sofrimento.

setembro 02, 2015

Todo mundo e ninguém

Hei passar pelas ruínas da terra,
e ver, em olhos perdidos, a devoção,
daqueles que vivem na guerra
entre a luxúria e a presunção.

Almas inquietas estarão vagando
em busca do prazer eudemonista.
O tempo de todo mundo caducando,
e o de ninguém estará sempre à vista.

Verei o estertor tornar-se virtude,
e o ócio personificar a degeneração.
Nesses tempos de vicissitude,

Em que o próprio tempo é religião,
Ninguém buscará a plenitude,
e todo mundo viverá a excitação.