maio 20, 2008

A chuva. Lira I.

Lira I

Quando é tarde... E longe se
Vê a alma no cinza brotar,
A chuva cai e molha todos
Os pensamentos solitários,
A chuva envolve as árvores
Em tormentos vários,
Fazendo da vida lágrimas
E do céu um rio a chorar.

Folhas cinzas caem daquele bosque,
Onde outrora nasceu o sol
No horizonte palpita a distância
Duma tristeza de saudade;
Torrentes, marés e furacões.
Vinga no peito a dor da piedade
Onde o riso se fez em pranto,
E se fez em tempestade o arrebol.

As trevas cobrem a vista,
A sensação é de pavor e amenidade,
Um frio de calor que abastece
O corpo de muitos sentimentos
O tempo corrompido pelas
Lembranças de espúrios contentamentos;
A alma lavada de dor trazida pela
Chuva que molha com suavidade.

Oh! Tempestade, Oh! Tempestade bela,
Que maldade ser-nos tão efêmera,
Quantos sonhos em ti deposito,
Quanta alma em ti, só em ti, se lava?
Quisera poder ser teu dono,
E você minha serva, minha escrava,
Pois do contrário viverei aqui perdido
Numa ilusão, numa triste quimera.

Aqui ainda fico a pensar nos olhos,
Argênteos, seus e na distância,
Tão breve é sua presença, que mais
A temo, quanto está perto a mim,
Como breves passeios nos parques,
Nos bosques coloridos de jasmim,
Que sua ausência, que já estão
Deslembradas numa triste fragrância.

Não é apenas o colorir do céu, o
Enrubescer das nuvens ou o lauto cinéreo;
Comovente é a precipitação de pensamentos,
Imperfeitas nuances campestres,
A vida como tinta em tela branca sem pincel,
Temas das vivências terrestres,
Lágrimas decaídas, tempestades de sol e
Um perfeito discurso de impropério.

A chuva ainda cai, vejo na janela uma
Tristeza sinuosa com o vento,
É tanto da vida que vai, que tudo
Nos faz perder o ânimo e a vontade,
E na chuva escorrida pela rua desce
Solitária e triste nossa vivacidade
Que se esvaindo foi como um dia, um
Dia chuvosos quais tivemos portento.

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