novembro 27, 2009

Ninguém

Quando de amor perdi o alento,
e vaguei o fado sem caução,
desencontrei-me até da ilusão
de fazer-me, enfim, em portento.

Porém, ouvi triste o pranto,
que em fogo nos olhos se fazia;
Recordei-me o amor que jazia
enterrado na letra do acalanto.

Enquanto o ardor bravo crescia,
aos poucos, leve e tanto
desencantei-me até do acalanto,

e deixei-me à triste fantasia:
De viver contente - em pranto,
sem amar ninguém, e ninguém portanto.

novembro 22, 2009

Razão

Engenho meu traidor tornou-se,
e sucumbiu ao mal do amor!
Fez-se das sensações amador,
enquanto do amor razão logrou-se.

Mal maior a emoção não trouxe,
senão esta de queimar-me em mil,
bramindo o coração - já ardil -,
em negar-se razão, que negou-se.

Razão de encanto tardia e vil,
emoções de coração cadente;
Eis que o amor jamais sucumbiu

aos desenganos da razão prudente,
e quanto mais razão se ouviu,
mais emoção se teve por confidente.

novembro 18, 2009

Ilusão

Ah! como amei-na no aguaceiro,
deixando ser - feliz e então -
cada gotícula na precipitação
para gozá-la só e por inteiro.

Ah! como era bom amá-la, senão
nas suas entranhas, seu cheiro.
Senti-la, num ardor verdadeiro,
deixar-se amar, a cada paixão.

Amei-na somente e desatento;
qui-la como a luz ao lampião,
de tal modo, e a contento,

que vaguei-me, sem precaução,
e tive-na - por um momento -
em meu doce sonho de ilusão.