setembro 22, 2009

O tolo

Julgo por tolo, nessa esteira,
aquele que lhe fez deixar.
Senão isso, hei-de acreditar,
que a morte lhe fez solteira.

Pois no mundo não há disparate,
que maior se faça em dimensão,
a este do mais infeliz truão
que resolveu abandonar-te.

Hei pensando nas coisas mundo,
nas ondas belicosas do mar,
e neste belo olhar teu profundo.

Só não me calha, inda, imaginar,
a má-sorte do triste moribundo
Que deixou-te um dia escapar.

setembro 19, 2009

Confissão íntima II

Amo-te, bem meu que ausente vaga,
e, no caminho que oculta percorre,
há lagos que de minha face corre,
há prados que minh'alma afaga.

Pelo caminho por onde se olvida,
deixei meu pensamento guardado,
e em cada sebe que há no prado,
fiz um verso com gota perdida.

Ficaram em cada árvore esculpidos,
Uns tristíssimos cantos de âmbar,
e reflexos d'uns beijos caídos,

Qual guardei, junto em meu sonhar,
para dar aos teus lábios puídos,
assim, amor meu, que lhe encontrar.

setembro 10, 2009

Confissão íntima I

Inda verei, no entardecer da mente,
uns vãos pensamentos, um sonho vão,
dizerem-me, em silenciosa erupção,
que do riso triste fez-se o contente.

Quando em triste fado vive e sente,
ama e chora, queima e se contenta,
perde-se numas esquinas e lamenta,
o bem perdido que se faz ausente;

E tem-se o bem, que n'alma vagueia,
que é puríssimo verso de saudade
esculpidos no semblante da areia;

Por que no olhar vago e penitente,
só se vê, como candura e fieldade,
amor para com ela, e a ela somente.