novembro 23, 2008

Tua imagem.

Envolvo-te, nesta quadra de apogeu!
Quando vendido estou por teu gesto,
Se mais dizem teus sorrisos, me atesto
Que me compro por um sorriso teu.

Se quando for vendido ao teu sorriso
Percorrer, com sucesso, lindos prados,
Relvas verdes, mares e lindos quadros
Tua figura será minha e teu o meu riso.

Se encontrar em tua efígie tua liberdade,
Encontrarei, também, o desejo alarmado,
Que em teus lábios róseos há guardado,

Encontrarei vista, encontrarei serenidade!
Quando vendido por tua graciosidade,
Hei ser teu sorriso, teus lábios, teu fado.

novembro 19, 2008

O mundo e o esquecimento.

Ando sobre o mundo, só e ausente.
Assisto pássaros, na aurora, cantarolar.
Rosas, de puras cores, desabrochar.
Percorro o sol matinal e o sol poente.

A curtos passos calculo o mundo...
Piso a turva água do manancial.
Durmo, sem medo, num dia glacial.
Deito sobre o prado verde e fecundo.

Este mundo onde há tanto a se ver...
Há tanto a assistir, há tanto a achar.
Mundo que se é fácil tudo encontrar.
Mundo onde nada se pode esconder.

Neste mundo onde nada se pode ocultar.
E eu, que tanto vi, não pude entender:
Como, entre noites, consegui me perder.
Como, entre dias, não sei me encontrar.

novembro 12, 2008

Busca

Eis o problema dos problemas!
É doce morena, linda donzela...
Castanhos olhos, boca bela.
É o maior triunfo dos dilemas.

Será morena, loura, ruiva, Ela?
A dama, que cujo olhar traçante,
Derruba-me do céu como errante
Afogado nas pedras da cidadela.

Eis o maior dilema deste amante:
Ser-se perdido na dorida vida,
No mundo da procura aguerrida...
Na inconstância do inconstante.

E desencontrar-se da desencontrada!
Minha amada e bela que segue a ermo
Pela saudade deste perdido enfermo
Que busca gêmea alma jamais achada.

novembro 09, 2008

Insanidade.

Minhas palavras se esvaem quando escrevo,
Se perdem na aurora do pensamento mesto!
E quanto mais me perco, mais me atesto,
Que quanto menos possuo-lha, mais devo.

Se me atrevo - oh! irônia - em pensar
O quão doce é teu lábio, e minha saudade.
Me engano, pois é doce a tua lenidade
Que beija-me, sem ao menos mo beijar.

Tamanha - oh! tragédia - é a ingenuidade
Que quanto mais me atrevo, menos sinto!
E quanto mais quero menos tenho! Adversidade...

Vivo - sem ao menos viver - num labirinto!
Beijo-te, toco-te, pinto-te! Pura insanidade!
Pois só em sonho lhe beijo, ouço e pinto.

novembro 05, 2008

Beijo Roubado

Exalto-me! Perpétuo aviltamento?
És chama fria, és perturbação...
Que efígie é a tua, que salvação?
Para que te tornaste sentimento?

Tamanha - pensava - fora a ousadia
De louvar-se pelo pecado alheio...
Tomado pelo pudor pueril, receio,
Sorvi-me-lhe do desdém a galhardia.

Roubaste, Senhora, com arrogância...
O que meu lábio nunca lha daria.
Roubou-me um beijo de inquietância.

Roubaste para si, com que cobardia,
Um único beijo, pura insignificância!
Pois, tudo o mais tu não mo roubaria.