junho 03, 2010

Esqueci.

Percorro o céu, o mar profundo.
Aqueço-me entre as estrelas!
Suporto minha dor de vê-las
sorrir na noite em que afundo.

Um sopro gélido o espaço anseia.
Canto solitário o que nem sei;
Está vivo? Sou vivo? Viverei?
Ah! tolice imaginar! Vagueia.

O reflexo me confundi a mente,
Que em perigrinação não é sã.
Mente que mente, pensa, sente.

Que esquece que o esquecimento,
que perece nessa aldeia cortesã,
é tudo que há, exceto sentimento.

maio 12, 2010

O mundo como inverno!

Eis que aqui há engenho,
arte, pudor e tolerância;
Há até singela elegância,
na pintura e no desenho.

Uma espécie de legião,
cuja fronteira é vasta,
da qual a tudo arrasta,
para dentro da predição.

Um bosque vasto e sombrio,
belo e mal-acabado;
Um acorde para o fado,

que resvala no vento frio.
Um vento frio, imaginado...
Que ouvem, mas ninguém viu.

abril 27, 2010

Sem sentido!

Era só pensar, pra pensar,
deixar-se no tempo diminuto,
caindo num canto do estar
entre o caos e o absoluto.

Sentia-se, pois, acalentado,
n'uns braços de fulgores
e de sublimidade atado
para tudo, para açores.

Quanto mais em si perdido,
mais no mundo ia caido!
Era só pensar, e destoar.

Deixar-se de tudo acontecer,
que se aparentava crescer,
como uma daninha a germinar.

março 19, 2010

Resquícios

Quem quis viver de saudades,
Abarcado no som lúdico da razão,
Viveu apenas de eternidades,
Sem segundos, sem paz, sem paixão.

Vivera como que não vivendo;
Correndo prados de glórias vis;
Enquanto se ia triste perdendo
Nos devastados sonhos sutis.

Não percebera ser mais um, apenas,
Se ludibriando com as estações,
Que iam e vinham, a duras penas.

Apenas mais um no reino de truões,
Que de saudades vive se esquecendo,
Que só ganha quando está perdendo.

fevereiro 26, 2010

O Pescador

Na beira-mar há um estranho ser,
De tudo vazio, porém compenetrado
pescando a vida muito arraigado
a valores muitos, sem nada fazer.

Buscando o todo e o completo nada,
olhando o horizonte espesso,
e perdendo-se no singelo apreço
que lhe vem da solidão calada.

Ali, nesse universo de colisão,
onde se constrói a passividade,
encontra o pescador de solidão,

a pura essência da abstracidade,
no tudo, no nada, na ilusão
do que crê ser a única realidade.

Solilóquio abstrato do si para consigo!

Não há carne ao teu pranto,
Nem desespero a teu olhar,
Que se me afigure espanto
Aos laços teus do enganar.

Sentimentos loucos, ufanos.
Trajados de fome e rejeição
Do que jamais te fora danos
Do que jamais te fora paixão.

Sonho, eis que ilusão isenta,
Daquele que mata e não come
A saudade perdida e sedenta!

Direi-te que o que consome:
É pão amargo que alimenta,
porém não que mata a fome.

janeiro 17, 2010

A busca

De tudo no mundo fui buscar,
da brandura quente do verão,
a ternura que há na imensidão,
para a ti, meu amor, comparar.

No canto sutil do bem-te-vi,
que soa breve à natureza,
em toda a sua estranheza,
a tua voz lúdica percebi.

Corri ao extremo oriente,
e o nascer do sol aguardei,
pois foi lá que espreitei
teu riso resplandecente.

No chão da Tailândia achei,
o rubi de mais bela cor,
e foi nele, com muito ardor,
que teus lábios lapidei.

Não pude, porém, encontrar,
quer no tudo, quer no nada,
a beleza que há aprisionada,
no teu, amor, castanho olhar.