outubro 09, 2020

Viver

Espalha-se pela relva o odor,
a opulência, a inanimação
do que jamais fez-se ação,
no relativismo vil e incolor.

Há-de se falar em gustação,
da servil juventude decaída,
cuja morte é serva da vida,
e a vida é retalho-extinção!

Gustação que não há, Adão!
É tudo perversão indevida,
castigo ao bondoso-coração,

pretérito verbo sem saída,
para além da mera negação
do “não-deve” viver a vida!

Velório

No negrume terror da solução,
Uns riem outros tantos a chorar,
Varridos pelo doril instaurar
Da intempestiva escuridão.

Os ponteiros já desgastados
Pelas lamúrias bem reunidas,
Daqueles que em suas vidas
Estão pelo termo soçobrados.

Quiséramos calcular a razão
Daquilo que sem razão existe,
Pois o tempo em si persiste,

E não dignifica a sua exclusão
para além de tudo que resiste,
e não se mantém a percepção.

(17/03/2018)

março 15, 2020

Síndrome

Aponta-se o dedo.
A língua, o não sei o quê
de palavras, letras e sons.

Aponta-se a crença,
a resposta desnuda,
o ódio revigorado de fé.

Aponta-se o irracional,
a máscara dos mascarados
de incolor compostura.

Aponta-se tudo sem piedade,
e esquece-se da síndrome
que assola o moderno homem...

A Síndrome moderna
que deita ao lado da criança
e beija a santa mulher...

A Síndrome que escolhe
o pobre nome, o nome...
do pobre... do homem.

A Síndrome que aponta
o sem-rumo, que consome...
A Síndrome da Fome.