abril 20, 2008

Infinito dentro de mim. Parte 6: Contentamento.

Sobreveio o sorriso pouco sincero à boca.
Nos olhos uma funda percepção de alegria,
Como se um beijo aquecedor em noite fria,
Como se um grito alto e forte na voz roca.

Proeminente, na face alheia, boa-venturança,
Carregada nas costas do castigado moribundo,
Atributo – arlequim indiferente – dum mundo,
Atributo – arlequim prudente – duma matança.

Cadentes passos na solidão sustentavam a mente,
Castrando-a do pudor caquético, efêmero e ruim.
Constâncias na escuridão tornaram-na presente,

No caminho conducente ao sublimável varandim,
Vista aos lagos do rir e aos morros do contente,
Onde – perdida – achou o infinito dentro de mim.

Infinito dentro de mim. Parte 5: Curare.

Eis – disse o pierrot – que surge a temeridade!
Naquela alma sem vício, coberta pela solidão,
O agreste compadecer germinou a retratação,
Representante – dizia o biltre – da mediocridade.

Dava-se por conformado, gerindo a alma à dor.
Condenou-se – sorria o pierrot – à infelicidade,
Concebida nos campos estéreis da maldade,
Consumida – lembrou o superego – no pavor.

Satisfeito por ter-se dado ao curare paliativo,
Cuja formula ofereceu-lhe ares de benjamim,
Requestou sua própria – num furor esquivo,

Solidão, que lho desejou num clamor sem fim!
Curando-o e conformando-o, num viver altivo,
Cujo veneno nasceu do infinito dentro de mim.

abril 19, 2008

Infinito dentro de mim. Parte 4: Conformação.

Espalhou-se, por sobre a sina, um nítido rancor.
Houvera quimeras de vivência em liberdade,
Soubera sentir, oportunamente, alguma saudade,
Das porções de sentimentos que lhe teve valor.

Verdes pastos por onde – o arlequim – andou,
Serviu de bolsa para o suco de suas perversidades.
Pois, quão mais nefastas tornaram as habilidades,
Mais nefastas eram as barbaridades que causou.

Lutou contra – este impiedoso ser – a solidão.
Derrotado foi onde a força encontrou o jasmim,
Porquanto, tinha medo absurdo em seu coração,

De perder-se enterrado num belíssimo jardim,
Onde se cultiva deslembranças, perdas e ilusão,
Onde não teria seu secreto infinito dentro de mim.

Infinito dentro de mim. Parte 3: Cólera.

Ferido – o arlequim – subjugava a dolência.
Chovia daqueles olhos lágrimas escarlates,
Cuja alma dominava a dor, nos embates,
Mas não a cólera da ruinosa permanência.

Fugiu e no caminho lindeiro da ira e torpor,
Sentira a mágoa, no sentimento de perdição,
Embora dormente estivesse ao caos-solidão,
Embora continuasse vivo seu lívido ardor.

Atirou-se – o arlequim – sobre o érebo seu.
Não lhe havia Arcádia – pensou ad amusim,
Soçobrado o pilar, qual ruiu e frágil cedeu,

À toda sua maldição abastecida de mordexim,
Cuja obra – aos berros delirantes – se rendeu,
Aos insanáveis danos do infinito dentro de mim.

Infinito dentro de mim. Parte 2: Castigo.

Enquanto durável é este breu que consome,
Tudo é pálido no indecifrável código de dor.
Corredores vermelhos, azuis e verdes sem cor,
Sentimentos famintos numa mente sem fome.

Dilacerado pelos martírios do olente fervor,
Qual derreteu as saudosas cirandas juvenis;
Disse ciclorama – nos palácios flores anis –,
- Alma inumerável se abastece no livor.

Ao ouvinte lobrigável: Das palavras bebeu?
Sentiste da fúria incendiaria? Pobre arlequim.
Dizia-lhe o castigo, que devidamente recebeu.

Lancinante dor – pelo o castigo – recebe, enfim.
E toma-te de juízo, saboreia da dor que escolheu,
Pois este é seu glorioso infinito dentro de mim.

abril 18, 2008

Infinito dentro de mim. Parte 1: Confusão

Encabruado sentimento, qual razão inodora de sentir.
Constante inconstância de leves brisas e andanças.
Vendaval cósmico, sensações insensatas de lembranças.
Perdição por ódio que se permite sem querer permitir.

Constelações de saudade e lagos de solidão.
Tristezas de alegrias, paradoxos de alegorias.
Lágrimas fantasmas de falsas olarias.
Concretas imagens de abstrações na funda imensidão.

Negrume abismal se forma neste canto terno,
sob forma de luzes e cores, num espaço sem fim.
Teatros em chamas, quais queimam no inferno.

Coquetel místico ofertado por um serafim,
Tudo não passa de um dia longo de inverno.
Tudo não passa de um infinito dentro de mim.

abril 12, 2008

Próxima distante

Aqui, nesta cidade, és meus olhos e frisos...
Neste recanto onde as aves tardam a voar,
Onde tudo que passa, deslembra de passar,
Onde não há dia, sem vossos púdicos sorrisos.

Marés de pensamentos brotam com o orvalho,
constantes e elevadas tal qual vossa sapiência,
moderada - nos recôncavos da mente - a prudência,
louvável - nas entranhas do corpo - o atalho.

E - nobre realeza, esculpida na alva ternura,
que do mádido rosto sorrisos breve cultivo -,
suas lembranças castigam o peito altivo,
n'outros olhos reflexo d'um ilusória loucura.

Proteja - Estrela luzente do norte - este miserável,
Em suas lidas e seus brandos regozijar de saudade,
cujo destino é estar longe do que lhe é prosperidade,
cuja vida é sentir-se em fogo ardil de tristeza afável.