dezembro 23, 2008

Ao vento - Lira I

Canso-me, por vezes, deste vento,
Que a noite cobre e cobre o céu
Que corre toda a terra como véu
De Vênus em seu amargamento.

Nestas longas noites de verão,
Enquanto o vento soa ardente
O último expectador ausente
Espreita-se entre sonho e ilusão.

O vento que se fez mensageiro
Agora se alarga entre os arvoredos,
E tamanho é seu esgueiro

Que não bastam os sutis enredos
Da boêmia do nobre aventureiro
Para fazer dos sopros segredos.

dezembro 22, 2008

Se...

Se de pecado for feito o pensamento,
Que percorre, nos braços da imensidão,
Todo o percurso que adorna o coração
Todo ultraje que se faz contentamento.

Se de pecado for reproduzida a paixão,
Que dos olhos marejados encantamento
Ecoam, no seio do se diz ser perdimento,
No sorriso infantil da mais pura comoção.

Se de pecado for forjado o ledo desejo!
O mundo é um pobre antro de transgressão.
Pois não há um ser que não se faz aleijo!

Todos os seres são pecadores, sem exceção...
Só pecará mais que não tiver por almejo
Encontrar {nessa curtíssima vida} uma paixão.

dezembro 21, 2008

Parte - Verso Segundo

Parto-me numa fração de parte!
Como sopro de vento incontrolável
Voou para o infinito, é inevitável!
Reparto-me de tudo, tudo reparte.

Gélido como o constrangimento;
Furioso como um ativo vulcão;
Tudo que se constrói é construção.
O que não se constrói é tormento.

E tão vago quanto o pensamento
Que pulula das heróicas dores do mundo,
Em tempo de cândido perdimento

É o desejo mais que mais profundo(...)
Tanta divagação e tanto contentamento,
Numa única parte, num labirinto fundo.

dezembro 20, 2008

Parte - Verso Primeiro

Parte-se numa fração de parte!
Absorto num abismo incontrolável
Voa para o infinito, é inevitável!
Reparte-se de tudo, tudo reparte.

Como o dia carece a noite escura
Para seu súbito preenchimento!
E os pássaros carecem o vento,
E risos vagos do dia, brandura.

A parte carece todo conjunto
Para que se dê como acabada.
É parte o esquife do defundo,

Que procura sua nova estada!
E tudo o mais nesse assunto...
É conjunto, parte ou é nada.

novembro 23, 2008

Tua imagem.

Envolvo-te, nesta quadra de apogeu!
Quando vendido estou por teu gesto,
Se mais dizem teus sorrisos, me atesto
Que me compro por um sorriso teu.

Se quando for vendido ao teu sorriso
Percorrer, com sucesso, lindos prados,
Relvas verdes, mares e lindos quadros
Tua figura será minha e teu o meu riso.

Se encontrar em tua efígie tua liberdade,
Encontrarei, também, o desejo alarmado,
Que em teus lábios róseos há guardado,

Encontrarei vista, encontrarei serenidade!
Quando vendido por tua graciosidade,
Hei ser teu sorriso, teus lábios, teu fado.

novembro 19, 2008

O mundo e o esquecimento.

Ando sobre o mundo, só e ausente.
Assisto pássaros, na aurora, cantarolar.
Rosas, de puras cores, desabrochar.
Percorro o sol matinal e o sol poente.

A curtos passos calculo o mundo...
Piso a turva água do manancial.
Durmo, sem medo, num dia glacial.
Deito sobre o prado verde e fecundo.

Este mundo onde há tanto a se ver...
Há tanto a assistir, há tanto a achar.
Mundo que se é fácil tudo encontrar.
Mundo onde nada se pode esconder.

Neste mundo onde nada se pode ocultar.
E eu, que tanto vi, não pude entender:
Como, entre noites, consegui me perder.
Como, entre dias, não sei me encontrar.

novembro 12, 2008

Busca

Eis o problema dos problemas!
É doce morena, linda donzela...
Castanhos olhos, boca bela.
É o maior triunfo dos dilemas.

Será morena, loura, ruiva, Ela?
A dama, que cujo olhar traçante,
Derruba-me do céu como errante
Afogado nas pedras da cidadela.

Eis o maior dilema deste amante:
Ser-se perdido na dorida vida,
No mundo da procura aguerrida...
Na inconstância do inconstante.

E desencontrar-se da desencontrada!
Minha amada e bela que segue a ermo
Pela saudade deste perdido enfermo
Que busca gêmea alma jamais achada.

novembro 09, 2008

Insanidade.

Minhas palavras se esvaem quando escrevo,
Se perdem na aurora do pensamento mesto!
E quanto mais me perco, mais me atesto,
Que quanto menos possuo-lha, mais devo.

Se me atrevo - oh! irônia - em pensar
O quão doce é teu lábio, e minha saudade.
Me engano, pois é doce a tua lenidade
Que beija-me, sem ao menos mo beijar.

Tamanha - oh! tragédia - é a ingenuidade
Que quanto mais me atrevo, menos sinto!
E quanto mais quero menos tenho! Adversidade...

Vivo - sem ao menos viver - num labirinto!
Beijo-te, toco-te, pinto-te! Pura insanidade!
Pois só em sonho lhe beijo, ouço e pinto.

novembro 05, 2008

Beijo Roubado

Exalto-me! Perpétuo aviltamento?
És chama fria, és perturbação...
Que efígie é a tua, que salvação?
Para que te tornaste sentimento?

Tamanha - pensava - fora a ousadia
De louvar-se pelo pecado alheio...
Tomado pelo pudor pueril, receio,
Sorvi-me-lhe do desdém a galhardia.

Roubaste, Senhora, com arrogância...
O que meu lábio nunca lha daria.
Roubou-me um beijo de inquietância.

Roubaste para si, com que cobardia,
Um único beijo, pura insignificância!
Pois, tudo o mais tu não mo roubaria.

outubro 31, 2008

Pequei II

Oh! Deus pequei, pequei por pecar!
Pequei. Sou pecador, sou escravo!
Escravo da minha sorte e do agravo
Que minh'alma está a devassar.

Instalou-se, como aves no horizonte,
Um desejo súbito, uma veleidade vã!
E nem esta que é a mente mais sã
Conseguiu atravessá-lo em sua fonte.

Oh! Deus pequei! Meu pecado é a dor;
Fui - dos homens - o mais inconseqüente.
Deixei-me varrer ao altar do pecador...

Lá as asas corromperam minha mente!
Sou pecador oh! Deus, pois tive amor!
Amor humano, amor pueril, amor latente.

Pequei

Oh! Deus pequei! Como hei-de pecar
Buscando e desejando o querer...
Agora Senhor vos hei prometer
livrar-me da dor e da alma o pesar.

Oh! Deus sou fraco: fala-me Senhor?
Fala-me que maré é esta a minha...
Quão minha é vida, vida sozinha!
Pequei Senhor: tenho culpa e amor.

Oh! Deus fala-me por um instante,
Fala-me que serei alvo de castigo!
Fala-me que fui o mais vil errante.

Se Vós ireis castigar-me: Vos Digo:
Castiga-me! E faça-o como a amante
Carregando, contudo, toda dor consigo.

Sei de tudo

Sei de tudo o que existe pelo mundo.
A forma, o modo, o espírito e os destinos.
Sei da vida das almas e aprofundo
O mistério dos seres pequeninos.

Sei da ciência do Espaço, sei o fundo
Da terra e os grandes mundos submarinos,
Sei o Sol, sei o Som e o elo profundo
Que há entre os passos humanos e os divinos.

Sei de todas as coisas, a teoria
Do Universo e as longínquas perspectivas
Que emergem da expressão das coisas vivas.

Sei de tudo e - oh! tristíssima irônia! -
Pelo caminho eterno por que vou,
Eu, que sei tudo, só não sei quem sou…

Raul de Leoni

outubro 28, 2008

Vida

"E ser-se novo é ter-se o Paraíso
É ter-se a estrada larga, ao sol, florida,
Aonde tudo é luz e graça e riso!" (Florbela Espanca)

(---)

Que saudade! Que vida sofrida.
Ser-se novo é ter-se o mundo
É ter-se o encanto de uma vida.

E tão logo, logo me confundo
Se vivo muito, muito vivo contente!
Se morro, não choro, sou infecundo.

- A vida é bela, diz o confitente
E sorri alegremente por descobrir
Que é também um expoente.

E a vida é um grandioso sorrir!
Uma valsa de três notas em harmônia...
Uma diz nasça, outra viva pra sentir...

A última nota é ponto. A extrema algia!
Mas só vivendo é que se aprende
A dar importância à vida, à alegria.

E chora a carola, tão mais fremente
Do que chora a criança recém-nascida
Aquela por conhecer, um incidente...

Um incidente que chamamos partida...
E esta chora, junto à mãe, por conhecer
O incidente a que chamamos vida.

Eis que o mundo...

Eis que o mundo nasce: agora!
Suas lágrimas transformam-se
Como uma lágrima que chora.
E transbordam e encontram-se
Na ilha do padecer! Que hora?
Encontram-se e colidem-se
Com a mais pura e bela aurora.
Aquelas - que por perderem-se
Vivem hoje, como viveram outrora
No nascimento da liberdade
No mundo da mais singela saudade.

Eis que o mundo nasce: Agora?
Agora! Como nasceu a beleza
No puro seio da ser, embora
Tenha sido o império da sutileza
Quem tenha herdado o que há fora
Deste sublime lume de proeza
Desta rir do tristonho caapora
Que vive a mercê da grandeza
Que neste mundo medonho e belo
Trouxe seu manto, manto amarelo.

Eis que o mundo nasce: Retumbante
Urge como passáro no vento ardente
Que voa e voa como ao andante
Que nada sem medo e latente
Neste seu terreno de ser arfante
Sobre a brisa matutina cadente.
Eis o homem, o mais nobre errante,
Houvera tornado-se humano e gente
Vivendo o mundo sempre sonhando
Vivendo eternamente cavalgando;

Eis que o mundo nasce: altivo!
E nascem as flores no asfalto
Pensamentos sem nenhum crivo.
Nasce o sol no cume, no alto
No sonho do desejoso primitivo
Que voa elevando-se absolto
À maresia de humano cativo
Quando de vida é envolto...
Eis que o mundo nasce: Brilhante!
Nascido da alma do nobre vagante;

O errante

Noite que me cobre a sandice.
Diga o que disser, não te escuto
Sou um mago forte, às vezes puto.
Fique você no seu luto, seu disse.

Sou eu menos quieto com palavras
Fala e ouço, sou bravo, sou moço
E vivo na calada, no alvoroço
Procurando a vida nestas quadras;

Quero emudecer, como um surdo
Que não fala por não ouvir
mas que vontade, pude presumir,
tem, e quer falar como dessurdo.

Sou antiquado, sou errante
Sou meu passado corrompido
Sou psicologo, sou cupido
E posso ser também falante.

Sou o que há de nostalgia
Sou tristeza, sou felicidade
Sou altruista e maldade
Para as donzelas da saudade.

E quando na noite me perco
Entre as dunas da magia
Entres conversa e alegria
É ali que está meu cerco.

Quero estar onde ninguém
ou Todo mundo, já esteve
Num esquecido parasceve¹
Onde liam camões com desdém.

E lá que me preparo, óh donzela!
Oh! donzela de escuridão e beleza
É lá que leva meu sonho e tristeza
Na noite solar, na tinta de urzela².

No fim, não sou nada e nada temo
Sou um menino-homem, sou acridão!
E quando falo, sou muito falastrão
E meus pensamentos vão ao gonzemo³.

**1 (sexta-feira santa para os judeus)
**2 (tipo de liquem usado para fazer tinta)
**3 (altar do templo no candomblé angola-congo)

Conjugando...

Quero conjugar o verbo amar.
Quem ama não se esconde
Não foge aqui ou adonde
Fica o castelo do esperar;

Quero conjugar o verbo amar
Conjugá-lo-ei no presente perfeito
Neste que nasceu dentro do peito
No mais puro e doce dia circular.

Quero conjugar o verbo amar...
Quero amar, amando em calma.
Superando as nuances da alma

Quero apenas meu amor superar.
Assim se me amas peço-lhe fala...
Se não ama engole e te cala.

Nos longos dias de solidão

Nos longos dias de solidão.
Abaixo a cabeça e penso
Logo rio, e acendo incenso
Para espantar este cão.

Nos longos dias de solidão
Minha natureza ecoa sombria
Como a triste tristeza fria
Que cai da cama da ilusão.

Nos longos dias de solidão
Sou eu e eu mesmo na rua
Sou eu na natureza crua
E quero estar só na escuridão.

Nos longos dias de solidão
Penso no mundo exterior
E na paz que hábita o interior
Penso e penso e digo não.

Nos longos dias de solidão
Eu não a quero, não desejo
Cuspo na boca que beijo
Para demonstrar ingratidão.

Nos longos dias de solidão
Maltrato-a, a ela, como faz
ela comigo, quando ela traz
Consigo sua vil maldição.

Nos longos dias de solidão
Eu desperto para o mundo
Sou anjo, sou vagabundo
Sou intrigado e sou truão.

Nos longos dias de solidão
Me falta a chuva de primavera
Aquela que agôa aquela era
De drama, medo e traição.

Nos longos dias de solidão
Sou eu quem faz o roteiro
Dirigo o filme, sou porteiro
Desta casa de imensidão.

Nos longos dias de solidão
Abraço o primeiro que ver
Não importa cheiro, nem querer
mas o sentimento de gratidão.

Nos longos dias de solidão...
Eu grito com o mundo e choro
Desespero e também imploro
Para que me venha um vozeirão.

Nos longos dias de solidão...
Eu sai e não me deixo estar
Neste sentimento de pesar
Que abate todo o coração.

Nos tortuosos dias de solidão
Eu ligo o rádio e triste canto
Para espantar o que espanto
Para sorrir feliz depois do trovão.

Reconstrução

Uma reconstrução é uma obra delicada...
Constrói-se o que já foi um dia construído
Restaura-se. Corrigi-se. O todo, o esquecido.
Uma reconstrução é uma obra, uma jornada.

Uma reconstrução carece de amor e respeito
Carece mais de compreensão com a identidade...
Para conseguirmos reconstituir toda a saudade
Que ficou naquele passado guardada no peito.

Uma reconstrução é obra árdua, é reconstrução...
E depende, muito mais, do nosso profundo querer
Que apenas e simplismente da necessidade.
E principalmente da ajuda dos que nos dão a mão.

Uma reconstrução dá ao edifícil nova vida, novo amor!
É por isso que quando a fazemos com devoção
Com parcerias, com ajudantes e com muita paixão
Não há futuro que derrube o que se eriçou com ardor.

Uma reconstrução é obra-prima. É alma, é graça...
Pois nela há o que há de mais precioso no reconstrutor!
Há um pedaço do coração que queima em calor
Por dar sopro ao que um dia perdeu-se pela caça.

Uma reconstrução é o conjunto de verbos do carinho
É um querer mais que estar sozinho, é uma vidraça
que se quebrou, uma porta que no tempo se despedaça
É uma nova vida, uma obra nova... Um novo ninho.

outubro 27, 2008

Novo beijo

Agora que curaste teu coração!
Me perco, choro e entristeço,
Se antes sentia, agora aborreço,
Cedendo ao tormento da omissão.

E quão breve lhe atrever a seta
Ultrapassar os antigos ferimentos.
Antes partirão vossos tormentos
Antes minha alma estará inquieta.

Quando se-lhe for nova a ventura,
Novo será o tormento, o desejo
Novo será o carinho, a ternura...

Apresentar-se-á moço o arquejo
De consquistar, com bravura,
Novo amor, nova boca, novo beijo.

outubro 19, 2008

Constante

Oh! céu da mais pura inconstância,
Que fazes tu nesta terra penosa...
Porquê brilhas como lua preciosa,
Se sua sina é escrita na acrimância?

Porquê não choras como criança?
Chora como quem quer ser feliz?
Chora pelo amor ardente e aboiz,
Pelo bem-querer, pela esperança?

Sinto vossa dor, oh! céu glorioso.
Sinto sua constante inconstância.
Esse sentimento desarmonioso,

Quando está presente em abundância...
Sei que sofres e se sente choroso,
Lembrando teu choro de infância.

outubro 16, 2008

Pelo vento

Quando o tempo é só inspiração,
Faço das minhas palavras vento
Para soprar, aquele sopro bento,
Que levará meu beijo a vossa mão.

E neste beijo, que é feito
Na noite serenosa e calma...
Que sai da boca e da alma,
Há todo meu amor e respeito.

Neste beijo vai a toda paixão
Doce e terna, do amante esquecido.
O amor em lábios de pura devoção...

E quando os lábios do vento perdido,
Já houver tocado vossa linda mão
Estarei louco e pelo amor ferido.

outubro 01, 2008

Quando vos puderdes dispor

Quando vos puderdes dispor,
Com sorriso breve de alteza,
O interior de vossa beleza:
De nada terás medo e temor!

Quando vos puderdes dispor,
Com justa e rica vontade,
Daquela simplória liberdade:
Saberás quem lhe tem amor.

Quando vos puderdes dispor,
Apenas por pura disposição,
De toda vossa qualificação:

Sentir-se-á pronta ao calor,
Que exala de vossa paixão...
Das pétalas de vosso pudor.

Toda minha saudade

Acordei hoje triste e choroso...
Pensei em teus olhos profundos,
Neles lembrei de meus mundos...
Onde não hei sintir-me nervoso.

Lembrei-me de teus lábios de flor,
Adulcicados pelo orvalho da beleza
Nutridos pelo fervor de uma grandeza
Que só vossa boca linda sabe dispor.

Em tua voz lembrei toda verdade,
Lembrei do vazio e da ilusão...
Da distância do vosso perdão...

Lembrei do sorriso de liberdade
Onde encontrei toda minha paixão
Onde deixei toda a minha saudade.

Hoje não usarei versos

Hoje não versos usarei,
falerei com redundância...
De mares da infância
De reinos que já herdei.

De mundos perdidos,
De reinos sem iluminação,
Dos planos de salomão
Da infância dos esquecidos.

Hoje verso não quero usar!
Quero flores e vinho tinto,
Abraçar só por abraçar,

Comer da linda noite o bem,
E mastigar o que eu pinto...
Pintando amores a alguém.

setembro 22, 2008

Àquela querida deusa!

Oh! querida deusa de ternura,
Sua imagem é água que lava
todas as impurezas e desbrava
a pureza sua, de pessoa pura.

Quanta devoção lhe é prestada,
nessa terra de jardins e prados...
Onde - nos dias de esquadros -
procura-se o céu vosso de calada.

Sois amável e doce, e como açucena
belíssima e perfumada. Sem alfítena
vives de bem com o mundo, alegremente!

E no vosso sorriso, de alma fina,
há uma paixão ardente que desatina
As luas de vossa beleza de contente.

setembro 02, 2008

Tempo

26 de Setembro de 2006

Tempo! Tempo! Tempo, se fosse tú amante
dar-me-ei dilação incomensurável e primordial,
um sentimento, no solilóquio, assaz fulgural,
para sentir dos segundos que restam cada instante.

Fora das jornadas a mais fausta, plena e aprazível,
senti, em dias, ameno em dias totalmente extenuado,
contudo construiu-se nos horizontes sonho alado,
que transformou-se numa realidade indiscritível.

Na matina, lembrar-me-ei de sorrisos de histórias,
de tempos onde pensavamos nas batalhas horrendas,
em que nós progrediamos em sapiências notórias,

onde a cooperação era traduzida em ditosas oferendas,
e as pessoas tinham como ideais às fulgentes glórias
Onde eram todos um só, em compaixões tremendas.

setembro 01, 2008

Jóia

Se não a houvesse encontrado,
Não - por sabido - muito pensaria
Procuraria na primeira joalheria
O diamante mais bem cuidado.

Aquele de sutil e delicada beleza,
Cujo ouro que envolve é ofuscado,
Pelo brilho belo - jamais igualado -
Pelo sorrir cintilante de grandeza.

Se não a encontrasse, continuaria
Eu sempre a procurar. Fosse onde!
Nos lagos azuis, na longa calmaria,

No castelo triste do triste maconde
Onde a pedra mais linda nunca igualaria,
A beleza que em teu sorriso se esconde.

agosto 26, 2008

Mais um João.

Sou tudo, quando há resto,
Uma mente aberta, um mundo,
Um certo alguém, um moribundo,
Um homem e sei que presto.

Quando tudo mais é perdido,
Sou a chama que alivia a dor,
Aquele a quem chamam amor,
A quem chamam de atrevido.

Há quem diga que sou eterno,
Um solstício de verão,
Tão quente como o inferno,

Que queima o negro sertão,
Nas frias noites de inverno...
Mas sou apenas mais um joão.

agosto 19, 2008

Garoto de Aluguel

Oh! Mulher sinuosa e bela,
Eu podiria amar-te, como Rei,
Cavalgando, como calvalguei,
em vosso império de donzela.

Oh! Mulher adorável e triste,
teu corpo consumiu o meu,
Naquele momento que fui teu,
e vos nos meus olhos paixão viste.

Oh! Mulher de suave brancura,
No leito impuro únicos seremos.
Na chama quente o corpo queimaremos

de paixão, de amor, de loucura...
Oh! mulher da vida, da vida minha
Vista-se já é hora de estar sozinha.

Beijos de saudade

Oh! sereno vento que no céu é feito,
e que em meus aposentos me acalma
faça um favor a esta pobre alma
que não descança sobre este leito.

Socorre este homem que vive perdido...
Procure sua amada que vaga na vida
e lhe entregue, onde estiver acolhida,
os versos que há tempo anda esquecido.

Por este vento de pura ingenuidade,
Qual foi confidente de amor, mandei
meus beijos secretos de paixão e lealdade...

Para que guardes, amor, como guardei
os teus lábios molhados de saudade...
Nos beijos de amor que lhe agora enviei.

agosto 18, 2008

Aquele beijo.

Te calas agora, enquanto lhe vejo...
Cala-te, que teus lábios mais me falam,
Quando (como as flores que exalam
seu amor às abelhas) no mais puro desejo.

Cala-te que a união fala em nome teu...
E fala do aroma da paixão na boca vossa
quando me suga sentimento do lábio meu,
forjando, em quente forno, alma nossa.

Cala-te que ouço vosso coração chamar-me!
Cala-te que tua boca me chama todo o desejo,
E corro aos teus lábios, que vão calar-me

E em vão eles falam as juras, que jura o pejo
Falando, em alta voz, enleios a torturar-me:
Doces os lábios que me beijam, e eu não beijo.

Calçada da vida.

Ando pela calçada que transpassa
nua, por toda minha saudade.
E cada passo que nela passa
Passará para a Eternidade!

Como um canto de beija-flor,
perdido no bosque da vida!
Naquele prado, de parda cor
que dava para a rua esquecida.

Atravesso o percurso sorridente
sem medo; Só e alegremente.
A vida para traz vai ficando

na calçada, desenhada e perdida
que é de lembranças preenchida,
que no horizonte se vai guardando.

agosto 06, 2008

Novamente

Vi nos olhos mórbidos da morte
Minha algia, temerária, escondida.
Quando solitária me partia a vida
Esquecida nos esquadros da sorte.

Dei-lha alma minha alva e perdida
Por um renascer lívido e violento...
Esperança, que carente de portento,
Se bem-aventurava quieta e atrevida.

O sol renasceu, após o entardecer...
Quando o escuro céu partia
A destruição se foi e ninguém via

Lagrimas no céu, só um bem-querer,
Uma vontade de liberdade! Uma tardia
Expectativa de o mundo renascer.

julho 31, 2008

Que aconteceu com a gente?

Que aconteceu com a gente?
Não vejo aqueles sorrisos
Que ficavam esculpidos nos pisos.
Agora que tudo está diferente...

Que aconteceu com a gente?
Não estamos mais acesos
Ao céu nosso dos indefesos
Que brilhava intensamente.

Que aconteceu com a gente?
Já não falamos mais de amor
Nossos dias são perdidos.

Eu amante e você fremente!
Ambos insensíveis à dor,
Ambos de amor feridos...

julho 30, 2008

Hoje não quero falar de amor.

Hoje não quero falar de amor...
Nem, contudo, hei ser ouvinte
Testemunha do seu requinte
Carrasco da sua leal e cruel dor.

Hoje não quero falar de amor...
Pois seriam palavras vazias
Chamas esgotadas, chamas frias...
Numa boca suja e indolor...

Hoje não quero falar de amor...
Não quero falar de nada...
Não quero... Não quero, somente!

Hoje não quero falar de amor...
Quero toda palavra silenciada
Como o silêncio do amor silente.

julho 01, 2008

Ao vento...

Soprei ao vento, amor que valia...
Para que este servo do meu amor...
Buscasse para mim e meu louvor...
A Rosa mais Linda desta Gália.

Pedi-o, que com pressa, me laureasse!
Com este ente de salvação e ternura...
Que de tanta beleza e tanta brandura...
Faz trazer a dor da saudade se me faltasse.

Veio-me e como veio! Amor!
Veio-me de mãos vazias! E então chorei...
Veio-me com mais ternura, na sóror...

Disse-me que {e senti nele a olência da bela...}
{Entendi os olhos marejados} Hei pecador, hei!
Mas perdoei-o, pois nos olhos dele vi os dela...

junho 22, 2008

Porta para o lado colorido.

Inocência em riso brando esculpido...
Amor em peito quente abrasado,
Um teto de luz clara iluminado,
Um contente beijo em face despido.

Infantes descalços correndo sem destino...
Cores em matizes pelas frestas visualizadas,
Campos arborizados, risos e mais risadas,
Um mundo perfeito sem medo, sem desatino.

A porta aberta... Uma janela... Um coração...
Uma mulher, que na cores pensava,
Sorria alegremente, enquanto entrava.

- Mãe, deixaram a porta abrido...
Percebeu a mulher, num riso, então
Aquela era a Porta para o lado colorido...

junho 21, 2008

Canção para o meu tormento

Hoje o céu está triste,
Hoje o chão é incolor,
Hoje a solidão persiste,
Hoje o mundo é de isopor...

Há no peito uma canção...
De tormento, amor...
Versos tristes, solidão...
Muitas lágrimas e dor..

Canção pro meu tormento,
Canção pra minha dor,
Canção pro sofrimento,
Canção pro desamor...

Não há flores no jardim,
Nunca houve plantação...
Não há nada dentro de mim...
Nem mesmo um coração...

Cante comigo agora...
O tormento em canção,
E enquanto você chora,
Vou falar da ilusão...

Vou cantar meu tormento
Meu tormento em canção.
Vou falar de sofrimento...
De mágoa, dor e ilusão...

Grite comigo agora...
O tormento é canção,
E enquanto você ora,
Vou escutar a solidão...

Vou contar o meu tormento
Meu tormento em canção.
Vou falar de sofrimento...
De remorso, medo e aflição...

junho 17, 2008

"Vambora"

Enquanto alguém canta uma canção,
Um outro alguém, triste e solitário,
Ouve-a respeitando a consternação,
Que a voz emite ao ouvido sectário.

O bom ouvinte, enquanto chora,
Anota, com lágrimas, a letra sofrida:
“Entre por essa porta agora, e diga que me adora
Você tem meia hora, pra mudar a minha vida”

Um ensaio melancólico brota no pensamento,
Sob a forma de um triste e triste soneto.
O tristonho começa com lágrimas o quarteto,
Que com a música personifica seu sofrimento...

O instrumento continua tocando a harmonia...
Ao som dele, o combalido homem seu verso dita...
E num extremo de amargura e cacofonia,
Exprime sua dor nos versos, pobre versos que recita:


Ouvindo a música tilintar ao vento,
As notas molhadas voam sem destino...
Voam... E voam... E soam como sino!
Na alma ressoando o descontentamento.

Umas vozes suaves, doces e magoadas,
Canta com dor as lembranças perdidas...
Canta querida, canta... dizem aluadas,
As estrelas que já choram feridas.

As lágrimas caem em forma de chuva fina...
E aquela voz ainda ressoa no coração,
Com ela uma dor tremenda, desatina...

A voz, numa mórbida tibieza, diz: É hora!
Alguém canta “vambora”, como que oração...
Enquanto o peito dói e a voz melancólica adora.

junho 12, 2008

Em algum lugar...

Em algum lugar do mundo...
O sol é, pois, mais fulgente,
Alumia o céu do moribundo,
Alumia a estrada decadente.

Em algum lugar do mundo...
Há felicidade em demasia,
Sorriso do mais profundo,
Sorriso e alegria e alegria!

Em algum lugar do mundo...
Há pessoas benevolentes,
Ajudando o mais imundo...
Ajudando aos descontentes!

Em algum lugar do universo...
O amor importa a toda gente!
Lugar onde o amar é diverso,
Lugar onde o amar é valente.

Em algum lugar do universo...
Canta a lua seu sóbrio desejo.
Cântico em lira e em verso,
Cântico para esconder o pejo.

Em algum lugar do além-astro...
Esconde-se o eterno segredo,
É, pois, lá o solo de alabastro!
É, pois, lá o mundo mais ledo.

Companhia

Lábios vermelhos como o sol nascente,
Casto rosto e pueril da linda donzela...
Que de tão bela, a lua nova crescente,
Regozijava de loucura em conhecê-la.

De uma terrível, e felizmente rara,
Noite de insônia, nasceu o púrpuro prazer...
O prazer puro, como a alma pura e cara,
Da donzela, cujo lábio é motivo do fenecer.

Tanto busquei companhia, qual não tinha,
Que nos lábios escarlates da donzela,
Achei soro da vida que carece a veia minha,

Encontrei o antídoto e o veneno pro sofrimento,
Naquela boca vermelha e casta e bela,
Naqueles beijos que não tive, naquele tormento.

junho 10, 2008

Amor Virtual

Que me diria do Virtual Amor?
Aparenta prazer lascivo sensual?
Um cingir na pele, um ardor...
Uma frieza? Um beijar não labial?

Que é amor? Que é? Amor? Amar?
Significa uma vida para muitos,
A outros, mera ilusão, mero sonhar!
Que é amor? Que é? Amor? Frutos?

Amor virtual... Engraçado amor,
É tão vulnerável... Uma imagem,
Que na mente cresce sem cor...

Um sentimento, uma ligeira paixão?
AMOR? Virtual! Intangível passagem...
Uma solitária viagem, uma abstração.

junho 03, 2008

O amor se foi, e deixou-me a cicatriz

Quando queimado fui de amor,
Dançei o alto som da glória,
Rasguei minha funesta memória,
Por achar-me em feliz dispor.

Hei lembrar-me daquela ventura...
Onde no lago azul nadava o riso,
Nas estrelas encontrava o piso,
Nos lábios escarlates a ternura.

Perdi-me nos doces lábios da paixão.
Do funesto destino fui eu aprendiz.
Meu mestre tempo me mostrou solidão...

Eu mostrei-lho lágrimas e disse infeliz:
Eu muito amei e agora sinto a devassidão.
Pois, amor se foi e deixou-me a cicatriz.

maio 21, 2008

Meu Segredo

Vou lhe contar um segredo,
mas vou dizer-lhe ao ouvido!
Pois é bem mais entendido,
num sussurrar com enredo;

Num sussurrar com vontade,
onde o sopro cria arrepio,
e a voz, como que porfio,
na alma encontra saudade.

E vou dizendo-lha devagar,
palavras, das mais emoções,
doces encantos e ostentações,
para meu segredo bem guardar;

De bom grado, farei arranjo,
com arpejos e sonatas,
e com palavras ingratas,
farei-te uma música no banjo.

E solarei-te para tu ouvir,
Enquanto ouves a declaração,
o meu segredo, minha canção...
meu híbrido e incolor sentir.

Sinto-lha mente está a sumir,
posso sentir vossa mão suar,
sua voz, arfada, falhar,
vosso ouvido a tudo consumir.

Conto-te meu segredo e arquejo,
meu corpo sinto tremer inteiro!
Meu segredo, confesso, sorrateiro:
É que passei pra lhe deixar um beijo.

[...]
[Em continuação... E em silêncio]
[Solitário o amante propala os seguintes dizeres:]

Contudo, em silêncio muito mais falo!
Falo a mim e a minha solidão, sem querer,
Falo, pois meu amor não ouvir-me-á dizer,
De meu amor, pois aos ouvidos dela calo.

[Assim falo:]
O verdadeiro segredo, por que lhe chamo,
conto em teus ouvidos com grande temor!
Contar-te-ei, com coração em palor,
que és tu a única pessoa a quem amo.

maio 20, 2008

Uma ilusão sem fim

É tudo nesta vida uma proeza,
uma dádiva de não sei quem,
que ninguém sabe d'onde vem,
que ninguém admite ter beleza .

É assaz tedioso - óh vil nobreza -,
Ver-vos escondertes neste sonhar,
onde distante, na lua a se banhar,
prende-se na mais pura tristeza.

Como tantas outras - perdidas e nuas -
se vai a princesa enjaular-se, enfim,
no seio das tuas lámurias, como jasmim
a esconder-se nos medos das glórias suas.

Enquando muitas pessoas se vão presas.
E tantas outras se vão livre-soltando.
E muitas outras sentindo-se indefesas,
Outras, tantas outras já se vão chorando.

E recôndita nas estranhezas d'uma solidão
encontrará um céu azul nublado escuro,
encontrará também corpo vázio e puro,
cheio de esperanças, cheio cheio de ilusão.

Um triste primeiro dia de abril.

Ela havia voltado.
Alguém lhe dissera.
A mente se desespera,
já muito atordoado.

Era a luz no caminho,
num escuro deserto...
Era um puro vinho,
que lhe estava aberto.

- Onde. Pergunta-se ele.
Queria tão logo esse ardor.
Os olhos buscavam nele,
aquele beijo despertador.

E já não se bastava...
Era todo em si contente,
sua alma que vagava,
veio-lhe de presente.

Um sorriso lhe fulgiu...
o rosto se molhava,
a mão que já se atava,
os lábios consumiu.

Num frénetico riso,
a notícia lhe aparece,
mais forte que uma prece,
e tão vil quanto um aviso.

E como se lhe rancassem o siso,
A dor no coração lhe afligiu:
não era sua amada naquele piso,
é apenas o primeiro dia de abril;

Um primeiro de abril.

Poderia dizer mil coisas lindas,
coisas das quais jamais se falava.
Falar-te-ia que vos não escutava,
e que todas as palavras são findas.

Ela lhe saciava... e ele: ah! amável.
Diziam-se: nós somos almas identicas,
Que em cada forma são excentricas,
e para cada beijo é lúdico e afável.

Ah! com que beleza invejavam aquele amor,
Com que vontade transformavam lago em rio...
Eram amantes, e qualquer um sentia sabor.

Mas, o passo do amor é fantastico, é ardil,
É como uma verdadeira mentira, um beijo frio...
E o tal amor é a vida eterna n'um 1º de abril.

Um silêncio.

Um dia quando calada estava a solidão,
Perguntou-lhe o silêncio da sua quietude,
Disse-lhe a solidão: encontro aqui plenitude,
Pensou o silêncio: é o quarto da emoção.

O silêncio, ainda inquieto, não exitou em perguntar:
- Solidão, passageira e motorista, qual sua jornada?
A solidão, em sua tristeza, responde ainda atordoada:
É caminhar sozinha, atrás do silêncio que esta a falar.

O silêncio, no auge de sua pertubação, indaga a pobre:
O que fazes tanto solidão, neste escuro que te cingi?
A solidão - abatida com sua imaginaria atitude nobre,

Cala-se, ao silêncio, enquanto um bobo sono fingi,
Não resisti e, diz, naquela sua irritação redobre:
Faço tudo, quando o tempo seu alvo ferido atingi.

À inesquecível Florbela...

Florbela, Bela Flor adormecida!
Dorme, anjo, enquanto lhe vejo.
Aqui, em sua solidão, seu pejo,
Onde não será nunca esquecida.

Dorme. Tudo não passa de desventura;
Dorme, alteza, esqueças sua tristeza,
Já preenchida de ilusão e de frieza,
Para que a esperança lhe de ternura.

Quando tudo for completo por amor,
Lhe chamo. Agora durma, pois esqueço
Estar admirando vossa beleza e dor!

Enquanto lhe vejo, muito agradeço,
Por ter a gloriosa chance de repor,
Em versos, toda paixão e apreço.

Valquíria

Formaram os seres seus quebra-cabeças;
Em teias longas de petálas azuis e verdes,
Peças singulares de incomunicáveis redes,
dispondo Odin para que em peito teças.

Em Asgard, a deidade, antes que anoiteça,
deixa seu leito a procura do prazer lascivo...
Em busca de emoções, num furor altivo,
foge no silêncio para que a alma padeça.

Em midgard, junto a seus pesados passos,
busca juntar, atordoada, as faltosas peças.
Continua, a valquiria, a caminhar à Jotunheim,

Perdida pelas lágrimas de desventuras e encalços;
Na Solidão, nas juras de amor e falsas promesas,
Vê seu o único caminho no gélido inferno de Niflheim.

Distante dos sonhos

Aqui, nesta cidade, és meus olhos e meus frisos...
Neste recanto onde as aves tardam a voar,
Onde tudo que passa, deslembra de passar,
Onde não há dia, sem vossos púdicos sorrisos.

Marés de pensamentos brotam com o orvalho,
constantes e elevados tal qual vossa sapiência,
moderado - nos recôncavos da mente - a prudência,
louvável - nas entranhas do corpo - o atalho.

E - nobre realeza, esculpida na alva ternura,
que do mádido rosto sorrisos breve cultivo -,
suas lembranças castigam o peito altivo,
n'outros olhos reflexo d'um ilusória loucura.

Proteja - Estrela luzente do norte - este miserável,
Em suas lidas e seus brandos regozijar de saudade,
cujo destino é estar longe do que lhe é prosperidade,
cuja vida é sentir-se em fogo ardil de tristeza afável.

A chuva. Lira III.

Lira III

Ouve-se barulho da chuva e poças!
Como cacos e mais cacos a se chocar,
Turbilhões de sentimento, fossas...
Amargura em água doce ou em mar!
A chuva ainda é fria e dolorosa.
A alma em sua tristeza a queimar!
Um fogo escoando em água amistosa...
Um sonhar, que nunca será um sonhar.

Corrosões na terra, a água a explodir.
O céu cinza é o escudo do temor.
A tempestade, violência e dor a cuspir,
Nestes seres sem piedade e emoção,
Uma demência vem do céu, sem intenção,
Para punir os animais na incursão
Que fizeram aos terrenos da imaginação...
Quando ainda havia neles algum pudor.

Continua a chuva... Chuva branda,
Num céu sem esperanças, cujo valor,
Ainda que perfumado com lavanda,
Só pode ser sentido na ausência!
Quando da chuva tudo for torpor,
Existirá a ausência, e não existência.
A chuva demonstrará o tal valor...
Que jamais foi sentido com calor.

A chuva molha os sapatos velhos!
Os velhos males da sociedade molhados,
Molhados estão também os espelhos,
Que refletem as vidas animais, culpados.
Destes que da chuva não podem sentir.
Os que esquecem dos seus dos fados,
Esquecem que a chuva é para ouvir,
São sentimentos para ser capturados.

É a chuva o começo, o meio e o fim!
É o pesar, a alegria, a tristeza e a sorte!
É um lago de amenidade e jasmim...
Coberto por flores de emoções.
É a chuva até a vida e a morte,
Um complexo de sonhos e sensações,
Que nascem no céu bem ao norte,
E permanece para expurgar a alma forte.

A chuva. Lira II.

Lira II

Sinto a tristeza encher o ambiente
Com seu vento gélido e sufocante,
É como se faltasse calor da gente,
É como se não houvesse coração,
As batidas seriam perdidas no som,
E o ambiente triste e de ilusão,
Seria apenas mais um típico lugar bom
Onde não existiria nenhum amante.

A janela continua embaçada.
Tudo continua embaçado e sem vida,
A tristeza continua abafada
Nas conjunturas dos que estão perdidos,
Os maus augúrios avisam da sorte
E dos sentimentos que estão proibidos,
E avisam aos - sob pena de morte -
Tristes: cure cada qual sua ferida.

O olho foca o horizonte ao longe,
Como se buscasse lá seu tesouro,
E como que - em pensamento - um monge,
Medita com o infinito azulado,
Onde as gotas provocam um sentimento,
Uma sensação de estar abandonado,
Mas é apenas a chuva em seu contento,
Reluzindo em sua chegada, qual ouro.

Sopra o vento gélido, que junto chega,
E já abastece de devassidão o ambiente,
Nas bastasse o corsário que só alega,
Em sua confusão, que tudo está em perdição,
O vento sussurra, para dentro das almas,
Uma dor pesada, como se fosse uma maldição,
Para que todos, para além de suas palmas,
Carreguem o pesar de estar demasiado contente.

A chuva inunda todo o escuro chão.
As flores orvalhadas transbordam beleza!
Tudo se transforma, em vão,
Paradoxalmente em alegria e felicidade,
As flores {que flores} sorriem,
Exalando olências da sua faustividade,
A chuva diz: que todos porfiem,
Pois aqui onde rego só há estranheza.

A chuva. Lira I.

Lira I

Quando é tarde... E longe se
Vê a alma no cinza brotar,
A chuva cai e molha todos
Os pensamentos solitários,
A chuva envolve as árvores
Em tormentos vários,
Fazendo da vida lágrimas
E do céu um rio a chorar.

Folhas cinzas caem daquele bosque,
Onde outrora nasceu o sol
No horizonte palpita a distância
Duma tristeza de saudade;
Torrentes, marés e furacões.
Vinga no peito a dor da piedade
Onde o riso se fez em pranto,
E se fez em tempestade o arrebol.

As trevas cobrem a vista,
A sensação é de pavor e amenidade,
Um frio de calor que abastece
O corpo de muitos sentimentos
O tempo corrompido pelas
Lembranças de espúrios contentamentos;
A alma lavada de dor trazida pela
Chuva que molha com suavidade.

Oh! Tempestade, Oh! Tempestade bela,
Que maldade ser-nos tão efêmera,
Quantos sonhos em ti deposito,
Quanta alma em ti, só em ti, se lava?
Quisera poder ser teu dono,
E você minha serva, minha escrava,
Pois do contrário viverei aqui perdido
Numa ilusão, numa triste quimera.

Aqui ainda fico a pensar nos olhos,
Argênteos, seus e na distância,
Tão breve é sua presença, que mais
A temo, quanto está perto a mim,
Como breves passeios nos parques,
Nos bosques coloridos de jasmim,
Que sua ausência, que já estão
Deslembradas numa triste fragrância.

Não é apenas o colorir do céu, o
Enrubescer das nuvens ou o lauto cinéreo;
Comovente é a precipitação de pensamentos,
Imperfeitas nuances campestres,
A vida como tinta em tela branca sem pincel,
Temas das vivências terrestres,
Lágrimas decaídas, tempestades de sol e
Um perfeito discurso de impropério.

A chuva ainda cai, vejo na janela uma
Tristeza sinuosa com o vento,
É tanto da vida que vai, que tudo
Nos faz perder o ânimo e a vontade,
E na chuva escorrida pela rua desce
Solitária e triste nossa vivacidade
Que se esvaindo foi como um dia, um
Dia chuvosos quais tivemos portento.

Por ti

[Mote]

"Morrer de amor ao pé da boca tua
Desfalecer à pele do seu sorriso
Sufocar de prazer com corpo teu
Trocar tudo por ti se for preciso"

[Poema]

Minha jura será sempre eterna e sua!
Não cessará meus lábios ao teu ouvir,
Pois de paixão hei queimando ao sentir,
Morrer de amor ao pé da boca tua.

Jazido a teus pés no chão sem piso,
Hei-de aqui ficar a consolar-te, amor!
E há-de, no manto do meu lábio indolor,
Desfalecer à pele do seu sorriso.

Quando - amor - beijar-me o lábio meu,
Sentir-se-á afagada pela onda de paixão,
Um fogo ardente que me há-de, como vulcão,
Sufocar de prazer com corpo teu.

E o mundo perder-se-á sem rumo e aviso,
Nas transitórias volições dum eu perdido!
Enquanto cá tudo compro para, co’o cúpido,
Trocar ‘tudo’ por ti se for preciso.

O verbo na pessoa errada.

Quisera poder eu antigos verbos conjugar!
Enquanto tudo vai perdendo as conjunções,
Já são tamanhas as vírgulas e travessões,
Que o sujeito abstrato tornou-se a concretar.

Já são tantas as pessoas deste infinito singular,
Que ela, eu e você estamos no mesmo tempo,
E sejam quais forem os pronomes de tratamento,
Nunca haverá mais-que-perfeito, nem combinar.

Tamanha é a nossa desavença de concordância,
Verbal e nominal, dessa oração, que esquecemos
Verbos do plural no singular, em abundância;

Conjugamos o verbo na pessoa errada e entendemos,
Que verbo de uma pessoa só é conjugado na distância,
Pois, eu conjugo você, num tempo que não temos.

Erro meu. Parte III.

Tantos erros cometemos nesta vida!
Tanta vida se perde por medo e abuso!
Hoje sei que sou pra ti um mero intruso,
Em sua mente, uma lembrança esquecida.

Todos os erros e acertos não valem nada?
Tudo - agora - parece ter sido em vão,
Não sei se é só em mim esta triste ilusão,
mas sei que em mim existe você aprisionada.

Não errei em tê-la guardado dentro de mim,
Mas em deixá-la ir para longe de meus braços,
Para longe de meus campos floridos de jasmim,

Onde não havia mãos, olhos, beijos e abraços!
Onde meu erro e meu orgulho encontraram fim!
O fim que hoje tenho distante dos nossos laços.

Erro meu. Parte II.

Hei de acordar, uma dia, arrependido,
por haver perdido um alguém sem igual!
Este arrependimento será tão colossal
Que hei de preferir me ter esquecido.

Tão triste é errar. Maior tristeza
Só se encontra no orgulho ingrato,
no sentimento de dor e de medo inato,
Que quanto mais cultiva, menos preza.

De erros e erros o mal foi forjando piedade!
A alma despedaçou e os sorrisos feneceram;
E ela indo ao longe para a terra da saudade.

Onde meus olhos choravam a lembrança que se perdeu.
E outras muitas, que regadas pela solidão floreceram
No sentimento que restou: o remorso do erro meu.

Erro meu. Parte I.

Quanto a vida perdemos por meras distrações?
Quantos sentimentos em nós se vão esquecidos,
e ainda sim, aqui neste reino, estão perdidos,
estes seres que não sabe viver sem confusões.

Quanto, penso eu, de mim tenho dispersado?
Quantos erros são precisos para ter razão?
Quantas lágrimas carecem um solitário coração?
Quanto tempo ao amor haverei depositado?

[há sonhar]
Quisera eu poder mudar todas as andanças.
Poder velar nossa distância, enquanto berro
De dor por todas as lágrimas e esquivanças.

[E dizer-te:]
De todas as coisas que me tornam um perro,
das tristes e das felizes, das lembranças,
você foi a única, a única que não é um erro.

A flor

Um dia, quando a flor saiu do ninho,
chorou por não ter do sol companhia,
Sentiu uma latente dor, uma porfia,
Pois o sol sempre esteve sozinho.

Sozinho andava de leste a oeste,
O sol em seu caminho natural,
Tão triste era seu fado habitual,
que não havia preço à sua peste.

A flor de solitária e triste fez união,
pediu ao sol sua luz em troca deu,
quando ele quisesse, por gratidão,

deu compania e o mais aconteceu,
a flor deu ao sol mais que atenção,
deu sentido para todo o brilhar seu.

Ser angelical

Aparece, enfim, o ser angelical...
tanto cheio ternura que desaba,
um céu escuro que nunca acaba,
de um ser que jamais será laical.

Soube-se, por outras línguas, amargas,
Que o anjo não só se afasta da ilusão,
Quanto procura - em sua sutil ambição,
Achar o dono de suas pesadas cargas.

É tão proficiente em sua busca sagaz,
Que tão longe vai e tão perto encontra,
Tudo quanto busca em sua prisão fugaz,

Nesta vida - onde tudo é um singelo mantra,
De viver bem em busca da felicidade e união -,
Onde tudo se encontra nas batidas do coração.

Por medo

Tantas coisas passam, por causa de medo,
como se um fardo fosse, uma consequência,
Uma devassidão, uma estranha demência,
Uma vida sem alma, um viver sem enredo.

Por medo, deixamos de sentir, por medo,
Preferimos chorar, a sentir um amor no coração,
Preferimos até o escuro caminho da solidão,
A falarmos as vezes esse nosso segredo.

Por medo, tudo continua um página em branco,
Por medo, somos forçados a viver na escuridão,
Por medo, o amor nos torna inuteis e sem valor,

Por medo, as lagrimas brotam na solidão do banco,
Por medo, o banco é acento de apenas um truão,
Por medo, não existe amor aos que não querem dor.

Infinito dentro de mim. Parte 7: Consternação.

Ouvira-se um uivo de solidão latente e feroz.
Na fragrância – columbina a chorar – dum fel,
Qual cantava, sórdida e tristonha, para Abel,
Seus choros de amargura e de empáfia atroz.

Suplicou – no enredo do triste samba a tocar –
Ao flecheiro, que ouvindo a dolência, resistiu,
Mas como ser amante, uma flecha permitiu,
Àquela alma solitária e medonha, atravessar.

Alma ferida. Sangue ardente correndo o prado,
Gritava – Columbina num furor – ao triste fim,
Enquanto corria para seu destino cruel e alado,

Destino de viver de consternação, sem seu sim,
Um caminho qual estava transcrito em seu fado,
Caminho lagrimoso no infinito dentro de mim.

abril 20, 2008

Infinito dentro de mim. Parte 6: Contentamento.

Sobreveio o sorriso pouco sincero à boca.
Nos olhos uma funda percepção de alegria,
Como se um beijo aquecedor em noite fria,
Como se um grito alto e forte na voz roca.

Proeminente, na face alheia, boa-venturança,
Carregada nas costas do castigado moribundo,
Atributo – arlequim indiferente – dum mundo,
Atributo – arlequim prudente – duma matança.

Cadentes passos na solidão sustentavam a mente,
Castrando-a do pudor caquético, efêmero e ruim.
Constâncias na escuridão tornaram-na presente,

No caminho conducente ao sublimável varandim,
Vista aos lagos do rir e aos morros do contente,
Onde – perdida – achou o infinito dentro de mim.

Infinito dentro de mim. Parte 5: Curare.

Eis – disse o pierrot – que surge a temeridade!
Naquela alma sem vício, coberta pela solidão,
O agreste compadecer germinou a retratação,
Representante – dizia o biltre – da mediocridade.

Dava-se por conformado, gerindo a alma à dor.
Condenou-se – sorria o pierrot – à infelicidade,
Concebida nos campos estéreis da maldade,
Consumida – lembrou o superego – no pavor.

Satisfeito por ter-se dado ao curare paliativo,
Cuja formula ofereceu-lhe ares de benjamim,
Requestou sua própria – num furor esquivo,

Solidão, que lho desejou num clamor sem fim!
Curando-o e conformando-o, num viver altivo,
Cujo veneno nasceu do infinito dentro de mim.

abril 19, 2008

Infinito dentro de mim. Parte 4: Conformação.

Espalhou-se, por sobre a sina, um nítido rancor.
Houvera quimeras de vivência em liberdade,
Soubera sentir, oportunamente, alguma saudade,
Das porções de sentimentos que lhe teve valor.

Verdes pastos por onde – o arlequim – andou,
Serviu de bolsa para o suco de suas perversidades.
Pois, quão mais nefastas tornaram as habilidades,
Mais nefastas eram as barbaridades que causou.

Lutou contra – este impiedoso ser – a solidão.
Derrotado foi onde a força encontrou o jasmim,
Porquanto, tinha medo absurdo em seu coração,

De perder-se enterrado num belíssimo jardim,
Onde se cultiva deslembranças, perdas e ilusão,
Onde não teria seu secreto infinito dentro de mim.

Infinito dentro de mim. Parte 3: Cólera.

Ferido – o arlequim – subjugava a dolência.
Chovia daqueles olhos lágrimas escarlates,
Cuja alma dominava a dor, nos embates,
Mas não a cólera da ruinosa permanência.

Fugiu e no caminho lindeiro da ira e torpor,
Sentira a mágoa, no sentimento de perdição,
Embora dormente estivesse ao caos-solidão,
Embora continuasse vivo seu lívido ardor.

Atirou-se – o arlequim – sobre o érebo seu.
Não lhe havia Arcádia – pensou ad amusim,
Soçobrado o pilar, qual ruiu e frágil cedeu,

À toda sua maldição abastecida de mordexim,
Cuja obra – aos berros delirantes – se rendeu,
Aos insanáveis danos do infinito dentro de mim.

Infinito dentro de mim. Parte 2: Castigo.

Enquanto durável é este breu que consome,
Tudo é pálido no indecifrável código de dor.
Corredores vermelhos, azuis e verdes sem cor,
Sentimentos famintos numa mente sem fome.

Dilacerado pelos martírios do olente fervor,
Qual derreteu as saudosas cirandas juvenis;
Disse ciclorama – nos palácios flores anis –,
- Alma inumerável se abastece no livor.

Ao ouvinte lobrigável: Das palavras bebeu?
Sentiste da fúria incendiaria? Pobre arlequim.
Dizia-lhe o castigo, que devidamente recebeu.

Lancinante dor – pelo o castigo – recebe, enfim.
E toma-te de juízo, saboreia da dor que escolheu,
Pois este é seu glorioso infinito dentro de mim.

abril 18, 2008

Infinito dentro de mim. Parte 1: Confusão

Encabruado sentimento, qual razão inodora de sentir.
Constante inconstância de leves brisas e andanças.
Vendaval cósmico, sensações insensatas de lembranças.
Perdição por ódio que se permite sem querer permitir.

Constelações de saudade e lagos de solidão.
Tristezas de alegrias, paradoxos de alegorias.
Lágrimas fantasmas de falsas olarias.
Concretas imagens de abstrações na funda imensidão.

Negrume abismal se forma neste canto terno,
sob forma de luzes e cores, num espaço sem fim.
Teatros em chamas, quais queimam no inferno.

Coquetel místico ofertado por um serafim,
Tudo não passa de um dia longo de inverno.
Tudo não passa de um infinito dentro de mim.

abril 12, 2008

Próxima distante

Aqui, nesta cidade, és meus olhos e frisos...
Neste recanto onde as aves tardam a voar,
Onde tudo que passa, deslembra de passar,
Onde não há dia, sem vossos púdicos sorrisos.

Marés de pensamentos brotam com o orvalho,
constantes e elevadas tal qual vossa sapiência,
moderada - nos recôncavos da mente - a prudência,
louvável - nas entranhas do corpo - o atalho.

E - nobre realeza, esculpida na alva ternura,
que do mádido rosto sorrisos breve cultivo -,
suas lembranças castigam o peito altivo,
n'outros olhos reflexo d'um ilusória loucura.

Proteja - Estrela luzente do norte - este miserável,
Em suas lidas e seus brandos regozijar de saudade,
cujo destino é estar longe do que lhe é prosperidade,
cuja vida é sentir-se em fogo ardil de tristeza afável.

março 26, 2008

Suplicas de amor à solidão

Não ouvirieis o som lúbrico da ilusão.
Nem temeras, por toda sua sorte,
que o amor te leve branda e forte
a tocar tristonhas sonatas de paixão.

E na lúdica valsa, seus passos perderão,
quando tudo for coberto pela saudade...
e teu choro não mais pedir por piedade,
o compasso do adágio que lhe tocarão.

A voz será suprimida pelos sons do luar...
Que de lúxuria, a seu espirito cobrirão.
E onde as tuas chagas lhe fizer chorar,

Sentir-se-á longe do sentimento truão...
Rogando estar nos cânticos do amar,
Rogando esquecer-se por viver na solidão.

março 18, 2008

Uns olhos

Noite quando os olhos escuros se deitam,
vermelhos pelo rio em cachoreira a jorrar,
Na face pura, no beijo ardente a implorar,
Pelas lágrimas em que os lábios deleitam.

Olhos, com que profundidade se proclama?
Sutis e abertos como brasa em fogueira.
Cruel alma perdida, sombra guerreira!
Imenso fogo árdil que em mar se derrama.

Olhos, o que me mostras do seu temor?
Tua temeridade eterna em fluente tilintar
Teu suco sosso enche a alma de clamor...

Teu canto, tua alegoria é se lamentar,
Numa execração constituida de amor,
Numa valsa de solidão que finge cantar.

março 04, 2008

Puros Olhos.

Por seus puros olhos vejo o sol brilhar,
Vejo o tempo em tua alma se perder
O dia sem brilho em lamúria fenecer,
E um sorriso em teu rosto tudo restaurar.

E no findar, quando do dia expandir,
A beleza que vi outrora em tudo renascer
Será o caminho justo e curto do querer
Do acalmar, do dizer e do sentir.

E já quando tudo for límpido e puro
Temeremos um sorriso breve a luminar
Uma beleza alva, que apagará o escuro,

Fazendo rubras flores cálidas brotar,
Graciosas do lábio inerme e maduro,
Da imagem d'um anjo no tibioso pensar.

fevereiro 28, 2008

Discurso sobre a saudade!

Já muito me disseram sobre a saudade.
E muito já ouvi sobre o esquecimento?
Para mim é tudo uma viva suavidade,
e é uma chama rubra em sentimento.

Longe, tudo que passa é um tormento,
lagos azuis sem passaros a cantar,
é o sol sem brilho, noite sem luar
é querer sem poder, sem intento.

Nos vales da distância e da tristeza
quiseram suprimir o sol de outrora,
e tudo mais que um dia foi beleza,

que ainda é neste instante, agora,
saudade, engenhozidade, proeza...
em mim, desde que fostes embora.

fevereiro 17, 2008

Castigo

Se de vida vejo apenas estreita separação,
corpos e almas em desespero repentino,
caminhos vagos num mar de desatinho,
um céu sem estrelas num canto sem duração.

Flores desbotadas sob um chão sem cor,
dias sem sol, e sol sem nenhum trovão.
Noites frias, esquecidas pela escuridão,
rosto pálido, olho ofuscado pela dor.

É tudo que passa um sordido tormento,
um quê tristeza que machuca o coração,
é um tal barulho que se faz pensamento,

uma vida vazia regada por uma maldição.
São fatos recordados pelo esquecimento,
são castigos do amor em plena superação.

fevereiro 16, 2008

Anjo Triste. Parte I

Ó anjo triste, tiraram-te as asas ao nascer
e deram-te pés para que aprendesse andar,
e no singelo corpo humano, a sorrir e cantar,
tornasse-se um ser-deus, a viver e padecer.

Nascido sem asas ao relento escondia a tibieza,
vivia a mercê de seu destino cruel e medonho,
o mundo foi-te como um pesadelo num sonho,
que dava-te os ares mais quentes d'uma frieza.

Aprendera, triste anjo, a ser um humano alado,
Aprendera a voar sem asas e também sem vento,
Aprendera que a tristeza é para se sofrer calado,

Aprendera que para se viver depende de intento,
Aprendera que tudo é um dia, e um dia é um fado,
Aprendera, por fim, que a vida humana é sofrimento.

Amar é...

[Mote]
Amar é... o caminho irreversível para ilusão;
Amar é... esquecer, lembrando só daquela;
Amar é... durmir a pensar nos olhos dela;
Amar é... viver sem ter vivido uma só razão...

[Poema]
Quem de amor não perde os laços e a razão,
deixando-se levar ao longe onde o mundo acabe,
de olhos fechados, pensando, pois diz e sabe:
Amar é... o caminho irreversível para ilusão;

Envolto em chamas, que em mil anos ainda gela,
e através dos caminhos longos e desventurados,
só escuta sons de vozes que cantam abafados:
Amar é... esquecer, lembrando só daquela;

E nos descasos do destino que alma ao amor atrela,
dorme, e em sonho esqueçe os temores que lhe esteia,
vendo um mar de rosas que desenham junto a areia:
Amar é... durmir a pensar nos olhos dela;

Mas se de saudoso sentimento tudo lhe é emoção,
tudo é vida, tudo é sorte, neste ambiente a surtar,
não se cala e envolve-se a alma num furor a gritar:
Amar é... viver sem ter vivido uma só razão...

O que é...

Se me perguntar, a esmo, o que é amor,
não responder-lhe-ia isto rapidamente,
deixaria no peito brotar aquela semente,
para sentir, primeiro, o que chamam dor.

Se me perguntar, a esmo, o que é saudade,
pensaria no mundo onde habita ilusão,
No horizonte onde existe medo e solidão,
para sentir, primeiro, o que chamam verdade.

Mas se me pergutar, a esmo, o que é vida,
responder-lhe-ei, desde já, que é sofrimento,
Um palor no peito um tal descontentamento,

Que mata, maltrata e que crava ferida,
No peito deste ser inepto e truão,
que vive a mercê do mundo da imensidão.

Crepúsculo

Do que foi escuro se fez alto e claro,
Raios em torrentes d'uma imensidão,
Das brisas gélidas se fez agitação,
Do que se foi escondido agora é raro.

Em amalgamento de cores se fez beleza,
Nas matizes eufóricas d'um verão aturdido,
No inverno o sentimento era confundido,
Entre a calmaria do palor e da estranheza.

E no horizonte se via o paradoxo natural,
A vida perder seus dias, perder sua cor,
Numa esfera de desejo alanranjado fulgural,

Num quê de tormento azul e sem calor,
No complexo do ínicio e do fim escultural,
Que o crepúsculo dava ao dia sem sabor.

Forever Lucy

Quando em teus puros olhos marejados,
Vi o mar raso em profundo céu aberto;
Esqueci-me do prepício e do deserto,
onde encontrei os mais belos anjos alados.

Em forma femina encontrei um deus supremo,
que de coração tinha alma ingênua e forte;
De amor move sempre a alma do sul ao norte,
E vive a oferecer um sorriso de brilho extremo.

Em forma angelical encontrei a pura beleza,
palavras doces e sensibilidade surrealista;
encontrei o dedo de Deus em nobre alteza,

E em nobre alteza não pude encontrar vista.
Contudo, nunca haverei de encontrar frieza,
neste ser que quanto mais tem, mais conquista.

Loucuras de Amor

Não quero de ti apenas lembranças,
tampouco um suspirou ousado e breve.
Não espero que sejas sofrimento leve,
nem que seja mais outras andanças!

Não retribua nada que lhe digo,
seja como és e me veja como sou,
dá-me todo sentimento que lhe dou,
e não me trate como um amigo!

E ainda que nunca me diga: te amo!
E ainda que nunca me diga: te quero!
Por todo tempo do mundo direi: espero!
Por todo tempo do mundo direi: Conclamo!

E ainda que me diga: me esqueça,
E ainda que me diga: nunca mais,
Ao mundo gritarei: te amo, demais
Ao mundo gritarei: Não sai da cabeça!

Delírios

Em meio a névoa putrida e amável,
o sol brilhava sua luz fiel de beleza,
as núvens pairavam numa tristeza,
onde o andar sutil era inda adorável.

Viamos flores secas e jardins quebrados,
Pedaços de corações por toda a parte.
Viamos aves pousando para toda arte,
e restos de vida como cacos reparados.

Uma imensidão, um azul de estranha frieza,
Cores desbotadas e návios naufragados,
Era tudo que um dia foi posto pela sutileza,

Sentimentos de amor... solitários e afundados,
Num universo de paixão e agora tibieza...
Eram outros delírios em mente aprisionados.

Sou, Fui, Serei...

Sou de mim as caixas vazias e sem valor,
Sou aquilo que se não lembra na vida,
Sou tempo, disperdício e o vil rubor...
Sou o resto de nada e o fim da partida.

Fui completamente tudo que não sei ser,
Fui herói de brinquedo e um estranho truão,
Fui o Rei dos impérios esquecidos do prazer,
Fui também o bobo da corte no abismo ilusão.

Sou o que não querem que ninguém vivo seja,
Sou a estreita ligação entra a vida e a morte,
Fui ainda mais que qualquer outro vivo deseja,

Fui o desespero no barco afundado da sorte,
Serei o que todos temem e que ninguém almeja,
Serei o pó e o segredo da vida calado e forte.

Sou

Sou poesia, mas nela não me faço ser,
Sou tolo, sou amante, sou amigo,sou...
Sou aquilo que no sangue quente suou...
Sou tudo e nada, sou desgosto e sou prazer!

Sou um arrebol fervoroso e a chuva fria,
Sou criação e sou também um criador,
Sou mestre e sou um vil desbravador,
Sou uma tal tristeza que se enche de alegria.

Sou a torre norte e as infinitas constelações,
Sou gêmeo de mim e amante da morte,
Sou o guerreiro escarlate das íntimas canções,

Sou fraco que de fraquezas mil se torna forte,
Sou alado, sou anil, sou as eternas divagações,
Sou tudo e tudo nada nos castelos da sorte.

Encantamento

Não bastassem os dias incomuns
as noites frias de verão à assolar,
os passáros únicos a cantarolar,
e a dança caótica no mar dos atuns.

Não bastassem as rosas vermelhas,
o fulgor único do terreno cinza-vil,
o céu com seu brilhante azul anil,
e as flores completadas por abelhas.

Não bastassem estas situações,
estes contrastes que nos foi dado,
o mundo continuaria sendo alado,

sob forte chuva ou até mesmo trovões,
ou ainda que outras fossem as tradições,
tudo continuaria sendo encantado.

Dead Flower

Temos caminhos.. Longos caminhos a seguir,
Enraizar, lutar contra o mundo e sobreviver,
Gerar frutos. Ir até não mais conseguir,
Para curvar-se ante ao tempo, e florescer.

Floresce-se. Vive-se. E da vida se espera.
Sabeis da regra, sabeis do mundo como é,
Da vida fausta, fausta vida que tudo altera,
Dando flor às rosas e rosas a quem tem fé

É duro dizer o que todos sempre souberam,
pois sente-se culpado por lhes isso dizer,
a vida é vida. E com isto nunca puderam,

Sabem que o tempo é sentir puro prazer,
Que ele faz todos aqueles que nasceram,
Todos, sem exceções, um belo dia morrer.

A vida segundo a vida

Se de tamanha emoção sinto esperança,
Pensando em ardor e vivacidade terna,
acolhendo sentimentos d'uma vil caverna,
Que há de nem me deixar, sequer, lembrança.

A vida propícia, por vontade ou atração,
Boas coisas, ou más, num emaranhado senil,
que seja bom ou mal a dor é sempre ardil,
para quem espera uma outra sensação.

E sonham, alto, alto demais para ouvir,
O som que sai das pequenas coisas do mundo,
Seqüestram-se para não ter que sentir,

O que procuram na vida a cada segundo.
Esquecem, por fim, que terão de fugir,
Para viver, ou morrer, num ser profundo.

As pétalas do amor

Que parta meu amor em livre assento,
em busca de seu extremo esplendor,
leve contigo meu sublime sentimento,
e traga um sorriso seu em puro ardor.

Levai a alma inepta em sua busca sagaz,
fazei dela sua sectária puritana amante,
rogai aos amores que dai-lhe lidima paz,
para em meus braços sentir-se arfante.

Vá ao érebo de teu rustico pensamento,
longe vislumbrar umas outras paisagens,
pois, andarei pensativo e a passo lento,

olhando o céu as estrelas e as imagens,
lembrando a ti aumentarei o meu intento,
e buscar-te-ei onde esteja as floragens.

Sob os pesares do amor

Se de vossa lagrimas sinto presença,
sinto vossa paixão ardente pura linda,
que de amor funesto se mostra finda,
Por amar a quem lhe oferta indiferença.

Quão degradante e ruinosa é sua sina,
que por amar demais, está se em lamuria,
tentando conquistar uma alma espúria,
qual lhe dá dor e tristeza repentina.

E não se sabe porque amas a tal tristeza,
Sabes que podes não viver sem sentimento,
Vives ainda à merce do que lhe tira beleza,

Do que lhe dá um eterno descontentamento,
se lhe é assim que merece viver a realeza,
vivamos nos, plebeus, à traça e ao vento.

Quando se perde as razões do amor!

De que vale sentir saudade?
Quando não existe afeição,
Quando ama sem retribuição,
Quando não encontra felicidade.

De que vale sentir paixão?
Quando se ama sozinho,
Quando não existe carinho,
Quando se lhe há solidão.

De que vale sentir amor?
Quando não se sabe se é amado,
Quando tem medo do clamor,

Quando se sente envergonhado,
Quando não existe glamour,
Quando de paixão é aprisionado.

Amor amante

Amor com amor se compra.
Vendido o amante esquece,
fazendo de palavra prece,
E que prece amante cumpra.

É amor amor ao nada em si,
amar ao tempo, à luz austera,
amar ao docil e também a fera,
amar a quem lhe ama e tem-si.

Amar como que o gelo ao sol,
navegar profundo mar ardente,
do oceano do amor que mente,

e sentir amante ser latente,
junto às abobadas e arrebol,
esquecendo ser amante atol.

Àquele amor derradeiro

O amado visto de amor se completa,
sendo amante a felicidade é repleta
mas amor não é amor quando não se
sabe amar o que quer que ame você.

Amor oblacente, carente ou devasso,
No mundo esta em eterno compasso,
nas sinuasas lembraças d'um amado
ser que sonha sempre que é alado.

E por que amar amor como a um tesouro,
esperar da terra frutos mil ou solidão
em si encontrar a dor vil banhada a ouro,

Sedimentar o amor para o amor em vão,
Sentir dele como que um corte ao couro,
que abre a pele como rasga o coração.

Sadness Beauty.

Se de profunda beleza encantável,
Que com feérico som soa tristeza,
De traços sublimes és quase estranheza,
De estranheza és singularidade inditável.

Imitaram-te ao fazer as estrelas,
Até vosso lume fizeram copiar,
Seus olhos tentaram expiar,
Para de ti conseguir esconde-las.

Mas nada podem contra vossa beleza,
Que equipara-se às deusas perdidas,
Já que aqui tudo seria apenas tristeza,

Pois sem vós teriámos vidas aturdidas,
Sem pensamento e também sem alteza,
Num reino vagante de almas feridas.

Angel

Somos anjos de uma asa só, e só conseguimos
Voar quando nos abraçamos com outro anjo.
Sentindo da brisa o amor que nos dá esbanjo;
E do calor todo infinito que então sentimos.

Somos anjos de uma asa só, e só conseguimos
Voar quando nos abraçamos com outro anjo.
Qual espelha sua alma em sublime arranjo,
De céu em cores mil e em mil sóis em arrimos.

Somos anjos de uma asa só, e só conseguimos
Voar quando nos abraçamos com outro anjo.
E sentindo o vento nórdico nos encontrar.

Fazendo-nos juntar, e quando assim abrimos,
Os olhos à imensidão, ao som d’um banjo,
Que tocado por Eros, emite o som do amar.

Funesto Fim

Um agouro suspirou no ouvido,
Um canto ao longe se escutava,
brando o som às pedras inalava,
Fantasiando um belo dia altivo.

Perdeu-se sob o céu escarlate,
Uma lagrima a face lhe corria,
O sol fulgindo vil lhe sorria,
Torrando aquela face que bate.

Voou, como uma águia no horizonte,
o vento, a face gélida, lhe tangia,
com olhos fechados via-se ageronte,

Na transição sentiu assaz algia,
Algoz à terra foi ditosa fonte,
Que ofuscou o homem em biofagia.

Caterva

Rompeu-se o liame do ser indolor,
No centro da evasão viu-se perdido,
Caminhando ora austero, ora comidido,
porfiou-se com si em brando palor.

Ruinado, os passos lhe trajavam,
voraz despiu-se da trajédia,
Movendo-se onde encontrava inédia,
E fracassos que lhe aguardavam.

Observava ao longe aquela migração,
Horrendos prospectos de humanidade,
Meticulosas formas de idealização,

Onde nada faz esta tal sociedade,
Esperando em caterva a realização,
De terra em céu e céu em felicidade.

Dispersão Melancolica

Voltar a ti minha atenção é trivial,
os pensamentos comuns me deleitam,
No berços que os poetas se deitam,
Vejo-vos com reserva especial.

Não penses que o traje veste o homem
Que os que esnobam nada tem a oferecer,
Que todos, sendo homem, tendem a morrer,
Que da vida os que não aproveitam somem.

A frivolidade unge aos sentimentos vis,
no seio da sociedade somos todos pecadores,
viboras que adornam o mundo com tons sutis,

De melancolias, sordidez por fim de dores,
Que arraigam no ser o que nada se diz,
Deificando santidades e dizendo-o amores.

Ideologias Perdidas

Ideologias pregam a maldição precursora,
No homérico prestigio sente o ardor vil,
Pragmático o prelúdio da andança no covil,
Estagnado na fatídica realidade assustadora.

Auspiciosas reflexões de derradeiras evasões,
Que, no complexo do imo, corrompem o ser,
Abstêmio de mente não pretende, mais, crescer,
Mitigado de solilóquios e, da vida, supressões.

Medida de intenção paliativa e frugal,
Alimentam as ideologias dos primitivos,
Na crista da solução é, então, vogal,

Crivado na promiscuidade de altivos,
Extenua-se olvidando o tom abismal,
Das concepções, vituperantes, em silvos.

Ruptura

Fulgente o astro matutino aspira amenidade,
Resquício do hodierno antro se esvai cativo,
O prospecto dos infortúnios se mostra altivo,
No patamar, finório, da escudeira relatividade.

Viventes, que temem senão a própria vida?
Eufóricos, no plano da dimensão desvairada,
Pousam um deus de trama desarmonizada,
No reducto dos que hão de tê-la perdida.

Desvendam o próprio descontentamento,
No auge das redenções com antigas crenças,
Afundam-se, na ilusão, de um sentimento,

Que suprimem, por hora, desavenças,
Mas que por fim fortalecem o tormento,
Destes seres acometidos destas doenças.

Traços do Perdido Mundo!

Perfunctórias passadas marcam o solo,
Sem ideal algum, desmembra-se da sensação,
Que aprisionado voa como um besta cão,
Que livre preso está no seu próprio pólo.

Eflúvios de lacônicas lamurias o maculam,
Aturdido pela ruptura dos compactos neurais,
Silente as ignominiosas sombras são fatais,
Quando os invectivos deméritos o manipulam.

Fora, então, succionado ao i[mundo] atroz,
Nos meandros da valência perdeu a dimensão,
Estuporou-se com o som de sua própria voz,

Que aludida ao céu trouxe-lhe apenas servidão,
Do conluio, excruciante, e demasiado veloz,
Onde cairá sem ideal, sem sentido, sem ilusão.

Prostrado

Da fonte, onde ressecados estão os laços,
O homem verifica-se em tempestade habitual,
Acolhido pelo som lúgubre simil a um ritual,
Prostrado e varrido de seus comuns traços.

Alhures vê fausto pensamento surgir,
O que lhe é temerário, agourento e impiedoso,
Pois, amalgamado ao imo é sempre ruidoso,
Nas constâncias do que lhe podia inibir.

Retorna então à tempestuosa solidão,
Que lhe afaga e destrói o sentimento,
Pois, que encontra na amnésica ilusão,

O fruto do cordial descontentamento,
Onde na chuva olha e vê a razão,
De tão infausto e vil sofrimento.

Desvairado Homem

Eis que surge ante ao espaço hermético
A solução, efêmera, porém, não mais ideal.
O espírito, ainda que murcho e caquético.
Renasce, ante suas cinzas, robusto e frugal.

[Porém,]
Viu-se alheio as questões, a ti, prejudicial.
De si, demasiadamente, havia esquecido.
Escondido e amedrontado sentiu-se banal
Procurando-se, algures, se havia perdido.

Sua imagem não mais era lembrada
Teu rosto, a ermo, haviam esquecido.
Este jovem a mente tinha quebrada

E teu espírito, ora esquálido e vencido.
Pela farroupa solidão fora arruinada.
Restou-se, o homem, poluto e varrido.

Exequias

Oh! Vida, somente, de ti sinto tamanha execração.
Por ter-vos, a mim, abandonado em ambiente hostil.
Se soubesses vois, do meu ímpio, a dimensão.
Talvez tirar-me-ia, logo, deste terreno pueril.

Perdido, algures, encontro-me em fastidão
Ao nada olho esperando ser, por este, sugado.
Porém sou, taxado, por este, de vulgar truão.
Que deixa-me aqui só para ver-me acabado.

Sinto o pesar dilacerar, momentaneamente, meu ser.
Findando assim minha esperança, ora guardada.
De honrosa morte, neste imenso inferno, vir a ter.

Porém, sinto eu, que nesta batalha, ora travada.
Não hei de nenhuma ganhar, ou melhor, perder.
Pois que a vida, em mim, vê-se lisonjeada.

Eternos Namorados Pt. 1

Cobre-se de rubro este inefável dia
Pois que do amor são as cores
Devaneios circundam a algia
Dos amantes vê-se os amores.
Na alma, branda, a magia!
Dias estes que rechaçam os pudores
O sentimento deflagra a paixão
No imo do ser arde o coração.

Florescer do Mal

Acorda-te e veja contíguo, o mal, surgir.
Sorrateiro e não menos, a ti, cordial.
Beija-te os lábios, ouvindo-o fremir.
Em olhos brumados uma algia real...

Vês que há de ser decadente
O sentimento funesto e truão
Ora mórbido, ora ardente.
Vestindo negro, personifica paixão.

Esquálido deixo-me absorto em vossa mão
Procurando não mais que o conforto da paz
Na alma, a dor, mortífera consome em vão.
Pois, o corpo, sem vida, no sepulcro, jaz.

Floresce o mal em corpo inanimado
Como a rosa, em frutífero, jardim.
Sobe ao céu o ser aclamado
Pelo rir da morte que saboreia o fim.

Praiano Desventurado!

Descalço piso na areia molhada
Vejo o arrebol estender-se raro
O brilho refletido na agua salgada
Traz-me o silencio alto e claro.

Ouço a inaudita voz da luz
Que me dizes deste caminho
O horizonte chega e seduz
Ditoso por caminhar sozinho.

Na alva areia resta-se o passo
Do caminhar deste ser enfadado
Reflete-se no céu descompasso
Impresso por este ser desnudado.

A quimera alude a devassidão
Já o arrebol fugaz aflora
Finda-se o dia em vil solidão
À bruma olha-se e chora.

Solidão

Finda-se o dominical dia
com flores de margarida
a noite traz-me a magia
da algia sinto a ferida.
_

Vejo no solo rubro a dor
claudicante como o céu
no rosto esconde-se o pudor
a mascara apresenta o fél.

_
Perdido sobre meu seio
sinto o folego da vida vil
o ódio infame me veio
cuberto pelo rosto senil.

_
Encontro porém na vida
uma demasiada devassidão
amargura nos olhos é tida
pelo sentimento de solidão.

fevereiro 15, 2008

Biduo Fastigioso.

Regresso dos campos rubros de meus pensamentos
Ao que estive, por longo tempo, neste recanto exilado
Escutava tudo quando de minha alma, os sofrimentos
prosperava eutimia, por nostalgia, neste ser, enfadado.
Solvem-me as horas em colapsos, fibrilares, nervosos
Perdurado per meus indistintos devaneios morbidos
Arraigados pensamentos, excruciantes, temerarios, fermosos
Funestos ante ao sol, à lua, porém, são eles, somente, sordidos.