outubro 28, 2008

O errante

Noite que me cobre a sandice.
Diga o que disser, não te escuto
Sou um mago forte, às vezes puto.
Fique você no seu luto, seu disse.

Sou eu menos quieto com palavras
Fala e ouço, sou bravo, sou moço
E vivo na calada, no alvoroço
Procurando a vida nestas quadras;

Quero emudecer, como um surdo
Que não fala por não ouvir
mas que vontade, pude presumir,
tem, e quer falar como dessurdo.

Sou antiquado, sou errante
Sou meu passado corrompido
Sou psicologo, sou cupido
E posso ser também falante.

Sou o que há de nostalgia
Sou tristeza, sou felicidade
Sou altruista e maldade
Para as donzelas da saudade.

E quando na noite me perco
Entre as dunas da magia
Entres conversa e alegria
É ali que está meu cerco.

Quero estar onde ninguém
ou Todo mundo, já esteve
Num esquecido parasceve¹
Onde liam camões com desdém.

E lá que me preparo, óh donzela!
Oh! donzela de escuridão e beleza
É lá que leva meu sonho e tristeza
Na noite solar, na tinta de urzela².

No fim, não sou nada e nada temo
Sou um menino-homem, sou acridão!
E quando falo, sou muito falastrão
E meus pensamentos vão ao gonzemo³.

**1 (sexta-feira santa para os judeus)
**2 (tipo de liquem usado para fazer tinta)
**3 (altar do templo no candomblé angola-congo)

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