junho 17, 2008

"Vambora"

Enquanto alguém canta uma canção,
Um outro alguém, triste e solitário,
Ouve-a respeitando a consternação,
Que a voz emite ao ouvido sectário.

O bom ouvinte, enquanto chora,
Anota, com lágrimas, a letra sofrida:
“Entre por essa porta agora, e diga que me adora
Você tem meia hora, pra mudar a minha vida”

Um ensaio melancólico brota no pensamento,
Sob a forma de um triste e triste soneto.
O tristonho começa com lágrimas o quarteto,
Que com a música personifica seu sofrimento...

O instrumento continua tocando a harmonia...
Ao som dele, o combalido homem seu verso dita...
E num extremo de amargura e cacofonia,
Exprime sua dor nos versos, pobre versos que recita:


Ouvindo a música tilintar ao vento,
As notas molhadas voam sem destino...
Voam... E voam... E soam como sino!
Na alma ressoando o descontentamento.

Umas vozes suaves, doces e magoadas,
Canta com dor as lembranças perdidas...
Canta querida, canta... dizem aluadas,
As estrelas que já choram feridas.

As lágrimas caem em forma de chuva fina...
E aquela voz ainda ressoa no coração,
Com ela uma dor tremenda, desatina...

A voz, numa mórbida tibieza, diz: É hora!
Alguém canta “vambora”, como que oração...
Enquanto o peito dói e a voz melancólica adora.

Nenhum comentário: