agosto 14, 2009

Sina

Sabereis que tua duríssima sina,
constante exata da equação amor,
não obstrui a ânsia de lutador
que vinga a espada clandestina.

Consome-se, pois, a alma na rotina,
mas não deixa-se perder, o perdedor.
E como cansa o peixe ao pescador
cansa a vida a quem não obstina.

Triunfará sobre o destino sem detê-lo,
Se buscardes, sem medo, a vitória,
erguendo o semblante para a punição.

E se os passáros voam, sem sabê-lo,
eis que podereis viver na justa glória
se dispuserdes a fazê-lo com devoção.

julho 05, 2009

Engano

Tenras flores do casto engano,
Que assolaram o bem que mo continha!
A vós não sabida é a ventura minha:
Se viver ditoso, se viver ufano.

Nos eflúvios que se me estranho,
verte um delírio de inconstância,
adonde me aproxima a distância,
do afastado bem-viver que acompanho.

Bem do meu viver é tolerância!
Que mal algum, que se me atente,
alcança o céu meu de inconstância!

E viver-se neste jardim latente,
é buscar no engano a pura ânsia
De no mal comum viver contente.

julho 02, 2009

Evolução.

Eis que o mundo disse: evolução!
Ao tempo em que seres devassos
surgiram marcando seus passos,
lamentando a falsa explicação.

Eis que são árvores infrutíferas!
Humanos, demasiado humanos...
para suportarem aos ufanos
anseios das jornadas letíferas.

Crianças acéfalas! Da sapiência
esquecidas, cujo saber escuro
trouxe-lhes ao mar de ausência

Onde criou-se-lhes um vasto muro,
de falsas idéias, falsa permanência
aparente passado, ilusório futuro.

junho 04, 2009

O canto

Quando de vosso vôo contente,
Admirava do céu a tristeza,
vislumbrei um balé de beleza,
Onde dançavas solitariamente.

Quietei-me, ausentando-me de mim!
Ouvi calado o vosso canto!
Cá me perdia em casto pranto,
ao ver tão majestoso querubim.

Deixar-me-ia morrer no enxergar,
pois de beleza o mundo há suprido,
(já que nenhum protesto fora ouvido)
só por estar no céu a bailar.

Dançaste por dias, e encantei-me!
Bebi das pávidas noites serenas!
Comi da terra as luas pequenas;
Dormir solitário, e mirrei-me.

Ao bramir do sol, deleitei-me,
Com a alvura do céu a brilhar;
Do pássaro o canto fiz copiar,
e, sem medo ao céu, entreguei-me.

Estando lá o pássaro fiz encontrar;
apaixonado por teu canto de prece,
raptei-lho para que comigo fizesse
da terra o mais sublimável par.

Afastei-lho de seu ninho alado;
Aprisionado, já não mais cantava;
enquanto minha pobre dor aumentava,
Chorava aos cantos desafinado.

Libertar-nos-ia no libertar;
Qual canto de glória ao céu,
que corre o horizonte infiel,
e sente, mas não pode escutar.

Fi-lo da terra o ser mais infeliz;
Já que nem de tristeza cantava;
não sorria, não comia, não piava!
tampouco haveria de ser joliz.

O lindo querubim as asas pendeu,
e com elas se foram o doce canto!
Das pétalas celestes ficou pranto
de uma sina de silêncio sandeu.

Quando o perecimento já abatia,
um sopro do céu veio a libertar,
e às almas muito enfermas curar,
do mal que há muito lhes curtia.

Da prisão o querubim se libertou;
Verteu-se no céu e pôs-se a cantar,
reanimou-se-lhe e dançou no luar
enquanto piava, como jamais piou!

Eu cá em terra pus-me a chorar,
duma alegria e tristeza do canto,
e calado vislumbrei, com espanto,
que só ali ele teria seu lar.

E ele, nas noites frias de solidão,
quando colhe o céu a tristeza,
canta alegremente à nobre realeza,
sua terna e lisonjeira realização.

Enquanto fico eu perdido em terra,
ouvindo calado a linda serenata
do pássaro à noite ingrata,
que solitária e muda se encerra.

maio 28, 2009

A névoa

Paira sobre o ser a maldição,
um êxtase de dor e alegria;
Uma reencarnação tardia,
eriçada da mais negra escuridão.

Uma névoa metálica se ergueu!
(num fervor, num canto voraz)
De toda raiz pútrida e contumaz,
nasceu a paz, que já não nasceu.

As trevas se colidiram com a dor;
Uma maré de agitação se abriu,
como a um sorriso torpe, incolor!

O que não se via, jamais se viu!
Pois da névoa brotou o amor:
Amor às trevas a que tudo cobriu.

abril 26, 2009

A última viagem!

A vida se vai como um a véu,
(Que se consome no fogo terno!)
Quando na morte a mente ao céu
Sobe e a alma desce ao inferno.

E contem-se na descida o desespero;
Uns rios sobem, uns sóis descem,
Choram todos os que perecem,
Só não o pedregulho que resta intero.

Antecipa-se a partida o viajante;
Sobe ao cume mais alto do oceano!
Voa, pendendo de asas, arfante,

Para o além-mar do eu – profano!
E ri-se, num breve delírio de Dante,
Da ardente brisa em que há nadano.

abril 19, 2009

Relutância

Onde está a alma resplandecente?
O caminho sutil da brandura divina,
Que conjugou talento à nossa sina,
Fazendo-nos enfermos na mente?

Vagamos por dentre janelas,
Vislumbrando momentos de emoção,
Tristeza, alegria, dor e compaixão!
Criando vida com cores singelas...

Que é isso que chamamos inconstância?
Que espírito desolador é o nosso?
Quem é essa tristeza? Que distância?

Quem domina o pensamento vosso?
Não sei! Sou apenas ínfima relutância
Entre tudo o que pretendo e o que posso.

março 24, 2009

Criação

Sol nascente serve o anjo de luz,
Que lumia os olhos da brisa fina!
Quando na inconstância celestina,
Somos pedra, barro, coroa e cruz.

Serpentes venenosas da escuridão,
cujos venenos indenes, revigoram,
da vida acre que nas selvas afloram,
O perdão dos remidos de perdão.

Selva de pedra! Céu de maldição...
Crieis a vida com placidez!
Mata-te o ódio que em ti vês.

Sejeis ira, lamúria, rendenção!
Homem e deus, cândura e acridez,
criador, criatura, cria e criação;

março 23, 2009

Um Segundo

Quero cantar de amores a vida,
sorrir alegre o prado fecundo;
Andar por sobre terra, jacundo;
Beber lábios da sina esquecida.

Mover entre os dedos uns cabelos,
Entre os beijos os mil sabores,
nos lábios, esplendorosos amores.
No enlaçar das almas os zelos.

Prado de amores e de serenidade
ando por ti, por ti me circundo
sou tua terra, flores, vivacidade!

Viverei-me em ti o mais profundo,
Despojando-lhe por toda eternidade,
Ou apenas por um dia, um segundo.

fevereiro 25, 2009

Carnival

Desce a purpurina com o vento!
Ecoa - como desejo canibal -
a festa da carne - o carnaval -
onde o sangue canta portento.

Um gosto pueril de sofrimento,
na letra triste do triste poeta!
Que canção de protesto inquieta
Alegra o povo do seu tormento.

E como que em encantamento:
sorriso, beijo, alegria, felicidade,
compõem os versos de alento

Que percorrem - com sagacidade -
as passarelas do contentamento
Dessa inércia dessa festividade.

Putanheiro

Escarlate lume do lar tolerância,
Em que a boca peca por rejeitar-me!
Eu, que ávido de amor, fiz jurar-me
Beijar bocas que procuram distância.

Quando em minha direção caminha
Nua, co'o vento ao corpo tocar-lhe,
A luz afavelmente a apalpar-lhe...
Consumo-lha, desejando a bainha.

Com violência tomo-lha inteira,
Sinto o ódio sugar-me à greta!
Perco-me, enquanto a “guerreira”

Dá-me na boca tua lânguida teta!
E vamos nos envolvendo nesta esteira...
Eis a vida do putanheiro e da ninfeta.

janeiro 23, 2009

Rios da vida

Se em teus lábios os meus estacionam...
No vibrar dos céus, em que padeço...
Perco-me, enquanto sonhos desmoronam,
Ao mesmo tempo que alegro e entristeço.

Vago no tempo em que me anoiteço,
Da pureza dum beijo de dualidade...
Se me pego a beijar a tua mocidade
estou morto! Pois é tudo que careço.

E se me vingo da morte em teu beijar...
Meu caminho tornar-se-á sem norte,
Pois dois rios se hão de encontrar...

Mas tamanha - sina dorida - é a sorte
Que se beijo, morro pelo rio da vida...
Se não beijo, morro pelo rio da morte.

janeiro 22, 2009

Palácio da Saudade

Palácio em que perdidas almas choram,
Sob o sepulcro mádido do esquecimento.
Piso insípido de oração e sacramento,
Lágrimas frias em quentes olhos afloram.

Esculturas clássicas descrevem o fado;
Vê-se tormenta em esculpida alegoria;
Medo de quem chora, riso de quem ria,
Ouve-se a fala de quem se há calado.

Paredes pintadas de descontentamento,
Que choro não há que se faça em riso;
Poder, argúcia, ópio ou autoridade

Que purgue o palacete do tormento...
É tudo uma lágrima a cair, um aviso
De uns sorumbáticos olhos de saudade.

janeiro 09, 2009

Perdido

- "Nada dói mais que nada ter".
Isto foi o que disseste, e disse.
Se tivesses que então dividisse,
Se não, não teria o que perder.

Pobre do coração que não teve
Que não teve sempre o que ter,
Que padeceu... Sem padecer!
Retendo cores, que não reteve.

Coração, coração triste e ledo...
Tua canção é triste como tua,
Tua tormenta de solidão crua,
Tua sina de paixão e tredo!

Teu silêncio à tua glória deteve!
E à míngua chorosa do teu enredo,
Vós que disseste – quase sem medo,
Que ter é melhor, jamais teve.

dezembro 23, 2008

Ao vento - Lira I

Canso-me, por vezes, deste vento,
Que a noite cobre e cobre o céu
Que corre toda a terra como véu
De Vênus em seu amargamento.

Nestas longas noites de verão,
Enquanto o vento soa ardente
O último expectador ausente
Espreita-se entre sonho e ilusão.

O vento que se fez mensageiro
Agora se alarga entre os arvoredos,
E tamanho é seu esgueiro

Que não bastam os sutis enredos
Da boêmia do nobre aventureiro
Para fazer dos sopros segredos.