abril 26, 2009

A última viagem!

A vida se vai como um a véu,
(Que se consome no fogo terno!)
Quando na morte a mente ao céu
Sobe e a alma desce ao inferno.

E contem-se na descida o desespero;
Uns rios sobem, uns sóis descem,
Choram todos os que perecem,
Só não o pedregulho que resta intero.

Antecipa-se a partida o viajante;
Sobe ao cume mais alto do oceano!
Voa, pendendo de asas, arfante,

Para o além-mar do eu – profano!
E ri-se, num breve delírio de Dante,
Da ardente brisa em que há nadano.

abril 19, 2009

Relutância

Onde está a alma resplandecente?
O caminho sutil da brandura divina,
Que conjugou talento à nossa sina,
Fazendo-nos enfermos na mente?

Vagamos por dentre janelas,
Vislumbrando momentos de emoção,
Tristeza, alegria, dor e compaixão!
Criando vida com cores singelas...

Que é isso que chamamos inconstância?
Que espírito desolador é o nosso?
Quem é essa tristeza? Que distância?

Quem domina o pensamento vosso?
Não sei! Sou apenas ínfima relutância
Entre tudo o que pretendo e o que posso.

março 24, 2009

Criação

Sol nascente serve o anjo de luz,
Que lumia os olhos da brisa fina!
Quando na inconstância celestina,
Somos pedra, barro, coroa e cruz.

Serpentes venenosas da escuridão,
cujos venenos indenes, revigoram,
da vida acre que nas selvas afloram,
O perdão dos remidos de perdão.

Selva de pedra! Céu de maldição...
Crieis a vida com placidez!
Mata-te o ódio que em ti vês.

Sejeis ira, lamúria, rendenção!
Homem e deus, cândura e acridez,
criador, criatura, cria e criação;

março 23, 2009

Um Segundo

Quero cantar de amores a vida,
sorrir alegre o prado fecundo;
Andar por sobre terra, jacundo;
Beber lábios da sina esquecida.

Mover entre os dedos uns cabelos,
Entre os beijos os mil sabores,
nos lábios, esplendorosos amores.
No enlaçar das almas os zelos.

Prado de amores e de serenidade
ando por ti, por ti me circundo
sou tua terra, flores, vivacidade!

Viverei-me em ti o mais profundo,
Despojando-lhe por toda eternidade,
Ou apenas por um dia, um segundo.

fevereiro 25, 2009

Carnival

Desce a purpurina com o vento!
Ecoa - como desejo canibal -
a festa da carne - o carnaval -
onde o sangue canta portento.

Um gosto pueril de sofrimento,
na letra triste do triste poeta!
Que canção de protesto inquieta
Alegra o povo do seu tormento.

E como que em encantamento:
sorriso, beijo, alegria, felicidade,
compõem os versos de alento

Que percorrem - com sagacidade -
as passarelas do contentamento
Dessa inércia dessa festividade.

Putanheiro

Escarlate lume do lar tolerância,
Em que a boca peca por rejeitar-me!
Eu, que ávido de amor, fiz jurar-me
Beijar bocas que procuram distância.

Quando em minha direção caminha
Nua, co'o vento ao corpo tocar-lhe,
A luz afavelmente a apalpar-lhe...
Consumo-lha, desejando a bainha.

Com violência tomo-lha inteira,
Sinto o ódio sugar-me à greta!
Perco-me, enquanto a “guerreira”

Dá-me na boca tua lânguida teta!
E vamos nos envolvendo nesta esteira...
Eis a vida do putanheiro e da ninfeta.

janeiro 23, 2009

Rios da vida

Se em teus lábios os meus estacionam...
No vibrar dos céus, em que padeço...
Perco-me, enquanto sonhos desmoronam,
Ao mesmo tempo que alegro e entristeço.

Vago no tempo em que me anoiteço,
Da pureza dum beijo de dualidade...
Se me pego a beijar a tua mocidade
estou morto! Pois é tudo que careço.

E se me vingo da morte em teu beijar...
Meu caminho tornar-se-á sem norte,
Pois dois rios se hão de encontrar...

Mas tamanha - sina dorida - é a sorte
Que se beijo, morro pelo rio da vida...
Se não beijo, morro pelo rio da morte.

janeiro 22, 2009

Palácio da Saudade

Palácio em que perdidas almas choram,
Sob o sepulcro mádido do esquecimento.
Piso insípido de oração e sacramento,
Lágrimas frias em quentes olhos afloram.

Esculturas clássicas descrevem o fado;
Vê-se tormenta em esculpida alegoria;
Medo de quem chora, riso de quem ria,
Ouve-se a fala de quem se há calado.

Paredes pintadas de descontentamento,
Que choro não há que se faça em riso;
Poder, argúcia, ópio ou autoridade

Que purgue o palacete do tormento...
É tudo uma lágrima a cair, um aviso
De uns sorumbáticos olhos de saudade.

janeiro 09, 2009

Perdido

- "Nada dói mais que nada ter".
Isto foi o que disseste, e disse.
Se tivesses que então dividisse,
Se não, não teria o que perder.

Pobre do coração que não teve
Que não teve sempre o que ter,
Que padeceu... Sem padecer!
Retendo cores, que não reteve.

Coração, coração triste e ledo...
Tua canção é triste como tua,
Tua tormenta de solidão crua,
Tua sina de paixão e tredo!

Teu silêncio à tua glória deteve!
E à míngua chorosa do teu enredo,
Vós que disseste – quase sem medo,
Que ter é melhor, jamais teve.

dezembro 23, 2008

Ao vento - Lira I

Canso-me, por vezes, deste vento,
Que a noite cobre e cobre o céu
Que corre toda a terra como véu
De Vênus em seu amargamento.

Nestas longas noites de verão,
Enquanto o vento soa ardente
O último expectador ausente
Espreita-se entre sonho e ilusão.

O vento que se fez mensageiro
Agora se alarga entre os arvoredos,
E tamanho é seu esgueiro

Que não bastam os sutis enredos
Da boêmia do nobre aventureiro
Para fazer dos sopros segredos.

dezembro 22, 2008

Se...

Se de pecado for feito o pensamento,
Que percorre, nos braços da imensidão,
Todo o percurso que adorna o coração
Todo ultraje que se faz contentamento.

Se de pecado for reproduzida a paixão,
Que dos olhos marejados encantamento
Ecoam, no seio do se diz ser perdimento,
No sorriso infantil da mais pura comoção.

Se de pecado for forjado o ledo desejo!
O mundo é um pobre antro de transgressão.
Pois não há um ser que não se faz aleijo!

Todos os seres são pecadores, sem exceção...
Só pecará mais que não tiver por almejo
Encontrar {nessa curtíssima vida} uma paixão.

dezembro 21, 2008

Parte - Verso Segundo

Parto-me numa fração de parte!
Como sopro de vento incontrolável
Voou para o infinito, é inevitável!
Reparto-me de tudo, tudo reparte.

Gélido como o constrangimento;
Furioso como um ativo vulcão;
Tudo que se constrói é construção.
O que não se constrói é tormento.

E tão vago quanto o pensamento
Que pulula das heróicas dores do mundo,
Em tempo de cândido perdimento

É o desejo mais que mais profundo(...)
Tanta divagação e tanto contentamento,
Numa única parte, num labirinto fundo.

dezembro 20, 2008

Parte - Verso Primeiro

Parte-se numa fração de parte!
Absorto num abismo incontrolável
Voa para o infinito, é inevitável!
Reparte-se de tudo, tudo reparte.

Como o dia carece a noite escura
Para seu súbito preenchimento!
E os pássaros carecem o vento,
E risos vagos do dia, brandura.

A parte carece todo conjunto
Para que se dê como acabada.
É parte o esquife do defundo,

Que procura sua nova estada!
E tudo o mais nesse assunto...
É conjunto, parte ou é nada.

novembro 23, 2008

Tua imagem.

Envolvo-te, nesta quadra de apogeu!
Quando vendido estou por teu gesto,
Se mais dizem teus sorrisos, me atesto
Que me compro por um sorriso teu.

Se quando for vendido ao teu sorriso
Percorrer, com sucesso, lindos prados,
Relvas verdes, mares e lindos quadros
Tua figura será minha e teu o meu riso.

Se encontrar em tua efígie tua liberdade,
Encontrarei, também, o desejo alarmado,
Que em teus lábios róseos há guardado,

Encontrarei vista, encontrarei serenidade!
Quando vendido por tua graciosidade,
Hei ser teu sorriso, teus lábios, teu fado.

novembro 19, 2008

O mundo e o esquecimento.

Ando sobre o mundo, só e ausente.
Assisto pássaros, na aurora, cantarolar.
Rosas, de puras cores, desabrochar.
Percorro o sol matinal e o sol poente.

A curtos passos calculo o mundo...
Piso a turva água do manancial.
Durmo, sem medo, num dia glacial.
Deito sobre o prado verde e fecundo.

Este mundo onde há tanto a se ver...
Há tanto a assistir, há tanto a achar.
Mundo que se é fácil tudo encontrar.
Mundo onde nada se pode esconder.

Neste mundo onde nada se pode ocultar.
E eu, que tanto vi, não pude entender:
Como, entre noites, consegui me perder.
Como, entre dias, não sei me encontrar.