março 26, 2008

Suplicas de amor à solidão

Não ouvirieis o som lúbrico da ilusão.
Nem temeras, por toda sua sorte,
que o amor te leve branda e forte
a tocar tristonhas sonatas de paixão.

E na lúdica valsa, seus passos perderão,
quando tudo for coberto pela saudade...
e teu choro não mais pedir por piedade,
o compasso do adágio que lhe tocarão.

A voz será suprimida pelos sons do luar...
Que de lúxuria, a seu espirito cobrirão.
E onde as tuas chagas lhe fizer chorar,

Sentir-se-á longe do sentimento truão...
Rogando estar nos cânticos do amar,
Rogando esquecer-se por viver na solidão.

março 18, 2008

Uns olhos

Noite quando os olhos escuros se deitam,
vermelhos pelo rio em cachoreira a jorrar,
Na face pura, no beijo ardente a implorar,
Pelas lágrimas em que os lábios deleitam.

Olhos, com que profundidade se proclama?
Sutis e abertos como brasa em fogueira.
Cruel alma perdida, sombra guerreira!
Imenso fogo árdil que em mar se derrama.

Olhos, o que me mostras do seu temor?
Tua temeridade eterna em fluente tilintar
Teu suco sosso enche a alma de clamor...

Teu canto, tua alegoria é se lamentar,
Numa execração constituida de amor,
Numa valsa de solidão que finge cantar.

março 04, 2008

Puros Olhos.

Por seus puros olhos vejo o sol brilhar,
Vejo o tempo em tua alma se perder
O dia sem brilho em lamúria fenecer,
E um sorriso em teu rosto tudo restaurar.

E no findar, quando do dia expandir,
A beleza que vi outrora em tudo renascer
Será o caminho justo e curto do querer
Do acalmar, do dizer e do sentir.

E já quando tudo for límpido e puro
Temeremos um sorriso breve a luminar
Uma beleza alva, que apagará o escuro,

Fazendo rubras flores cálidas brotar,
Graciosas do lábio inerme e maduro,
Da imagem d'um anjo no tibioso pensar.

fevereiro 28, 2008

Discurso sobre a saudade!

Já muito me disseram sobre a saudade.
E muito já ouvi sobre o esquecimento?
Para mim é tudo uma viva suavidade,
e é uma chama rubra em sentimento.

Longe, tudo que passa é um tormento,
lagos azuis sem passaros a cantar,
é o sol sem brilho, noite sem luar
é querer sem poder, sem intento.

Nos vales da distância e da tristeza
quiseram suprimir o sol de outrora,
e tudo mais que um dia foi beleza,

que ainda é neste instante, agora,
saudade, engenhozidade, proeza...
em mim, desde que fostes embora.

fevereiro 17, 2008

Castigo

Se de vida vejo apenas estreita separação,
corpos e almas em desespero repentino,
caminhos vagos num mar de desatinho,
um céu sem estrelas num canto sem duração.

Flores desbotadas sob um chão sem cor,
dias sem sol, e sol sem nenhum trovão.
Noites frias, esquecidas pela escuridão,
rosto pálido, olho ofuscado pela dor.

É tudo que passa um sordido tormento,
um quê tristeza que machuca o coração,
é um tal barulho que se faz pensamento,

uma vida vazia regada por uma maldição.
São fatos recordados pelo esquecimento,
são castigos do amor em plena superação.

fevereiro 16, 2008

Anjo Triste. Parte I

Ó anjo triste, tiraram-te as asas ao nascer
e deram-te pés para que aprendesse andar,
e no singelo corpo humano, a sorrir e cantar,
tornasse-se um ser-deus, a viver e padecer.

Nascido sem asas ao relento escondia a tibieza,
vivia a mercê de seu destino cruel e medonho,
o mundo foi-te como um pesadelo num sonho,
que dava-te os ares mais quentes d'uma frieza.

Aprendera, triste anjo, a ser um humano alado,
Aprendera a voar sem asas e também sem vento,
Aprendera que a tristeza é para se sofrer calado,

Aprendera que para se viver depende de intento,
Aprendera que tudo é um dia, e um dia é um fado,
Aprendera, por fim, que a vida humana é sofrimento.

Amar é...

[Mote]
Amar é... o caminho irreversível para ilusão;
Amar é... esquecer, lembrando só daquela;
Amar é... durmir a pensar nos olhos dela;
Amar é... viver sem ter vivido uma só razão...

[Poema]
Quem de amor não perde os laços e a razão,
deixando-se levar ao longe onde o mundo acabe,
de olhos fechados, pensando, pois diz e sabe:
Amar é... o caminho irreversível para ilusão;

Envolto em chamas, que em mil anos ainda gela,
e através dos caminhos longos e desventurados,
só escuta sons de vozes que cantam abafados:
Amar é... esquecer, lembrando só daquela;

E nos descasos do destino que alma ao amor atrela,
dorme, e em sonho esqueçe os temores que lhe esteia,
vendo um mar de rosas que desenham junto a areia:
Amar é... durmir a pensar nos olhos dela;

Mas se de saudoso sentimento tudo lhe é emoção,
tudo é vida, tudo é sorte, neste ambiente a surtar,
não se cala e envolve-se a alma num furor a gritar:
Amar é... viver sem ter vivido uma só razão...

O que é...

Se me perguntar, a esmo, o que é amor,
não responder-lhe-ia isto rapidamente,
deixaria no peito brotar aquela semente,
para sentir, primeiro, o que chamam dor.

Se me perguntar, a esmo, o que é saudade,
pensaria no mundo onde habita ilusão,
No horizonte onde existe medo e solidão,
para sentir, primeiro, o que chamam verdade.

Mas se me pergutar, a esmo, o que é vida,
responder-lhe-ei, desde já, que é sofrimento,
Um palor no peito um tal descontentamento,

Que mata, maltrata e que crava ferida,
No peito deste ser inepto e truão,
que vive a mercê do mundo da imensidão.

Crepúsculo

Do que foi escuro se fez alto e claro,
Raios em torrentes d'uma imensidão,
Das brisas gélidas se fez agitação,
Do que se foi escondido agora é raro.

Em amalgamento de cores se fez beleza,
Nas matizes eufóricas d'um verão aturdido,
No inverno o sentimento era confundido,
Entre a calmaria do palor e da estranheza.

E no horizonte se via o paradoxo natural,
A vida perder seus dias, perder sua cor,
Numa esfera de desejo alanranjado fulgural,

Num quê de tormento azul e sem calor,
No complexo do ínicio e do fim escultural,
Que o crepúsculo dava ao dia sem sabor.

Forever Lucy

Quando em teus puros olhos marejados,
Vi o mar raso em profundo céu aberto;
Esqueci-me do prepício e do deserto,
onde encontrei os mais belos anjos alados.

Em forma femina encontrei um deus supremo,
que de coração tinha alma ingênua e forte;
De amor move sempre a alma do sul ao norte,
E vive a oferecer um sorriso de brilho extremo.

Em forma angelical encontrei a pura beleza,
palavras doces e sensibilidade surrealista;
encontrei o dedo de Deus em nobre alteza,

E em nobre alteza não pude encontrar vista.
Contudo, nunca haverei de encontrar frieza,
neste ser que quanto mais tem, mais conquista.

Loucuras de Amor

Não quero de ti apenas lembranças,
tampouco um suspirou ousado e breve.
Não espero que sejas sofrimento leve,
nem que seja mais outras andanças!

Não retribua nada que lhe digo,
seja como és e me veja como sou,
dá-me todo sentimento que lhe dou,
e não me trate como um amigo!

E ainda que nunca me diga: te amo!
E ainda que nunca me diga: te quero!
Por todo tempo do mundo direi: espero!
Por todo tempo do mundo direi: Conclamo!

E ainda que me diga: me esqueça,
E ainda que me diga: nunca mais,
Ao mundo gritarei: te amo, demais
Ao mundo gritarei: Não sai da cabeça!

Delírios

Em meio a névoa putrida e amável,
o sol brilhava sua luz fiel de beleza,
as núvens pairavam numa tristeza,
onde o andar sutil era inda adorável.

Viamos flores secas e jardins quebrados,
Pedaços de corações por toda a parte.
Viamos aves pousando para toda arte,
e restos de vida como cacos reparados.

Uma imensidão, um azul de estranha frieza,
Cores desbotadas e návios naufragados,
Era tudo que um dia foi posto pela sutileza,

Sentimentos de amor... solitários e afundados,
Num universo de paixão e agora tibieza...
Eram outros delírios em mente aprisionados.

Sou, Fui, Serei...

Sou de mim as caixas vazias e sem valor,
Sou aquilo que se não lembra na vida,
Sou tempo, disperdício e o vil rubor...
Sou o resto de nada e o fim da partida.

Fui completamente tudo que não sei ser,
Fui herói de brinquedo e um estranho truão,
Fui o Rei dos impérios esquecidos do prazer,
Fui também o bobo da corte no abismo ilusão.

Sou o que não querem que ninguém vivo seja,
Sou a estreita ligação entra a vida e a morte,
Fui ainda mais que qualquer outro vivo deseja,

Fui o desespero no barco afundado da sorte,
Serei o que todos temem e que ninguém almeja,
Serei o pó e o segredo da vida calado e forte.

Sou

Sou poesia, mas nela não me faço ser,
Sou tolo, sou amante, sou amigo,sou...
Sou aquilo que no sangue quente suou...
Sou tudo e nada, sou desgosto e sou prazer!

Sou um arrebol fervoroso e a chuva fria,
Sou criação e sou também um criador,
Sou mestre e sou um vil desbravador,
Sou uma tal tristeza que se enche de alegria.

Sou a torre norte e as infinitas constelações,
Sou gêmeo de mim e amante da morte,
Sou o guerreiro escarlate das íntimas canções,

Sou fraco que de fraquezas mil se torna forte,
Sou alado, sou anil, sou as eternas divagações,
Sou tudo e tudo nada nos castelos da sorte.

Encantamento

Não bastassem os dias incomuns
as noites frias de verão à assolar,
os passáros únicos a cantarolar,
e a dança caótica no mar dos atuns.

Não bastassem as rosas vermelhas,
o fulgor único do terreno cinza-vil,
o céu com seu brilhante azul anil,
e as flores completadas por abelhas.

Não bastassem estas situações,
estes contrastes que nos foi dado,
o mundo continuaria sendo alado,

sob forte chuva ou até mesmo trovões,
ou ainda que outras fossem as tradições,
tudo continuaria sendo encantado.