agosto 14, 2015
Preces
inconstante e intransponível.
A vida é vaga, e vaga sensível
no oco desse mundo impuro.
É tudo, enquanto inconstante,
sem preço e sem piedade!
É intransponível vaidade,
que de branda é queimante!
O tempo corre desconcertante,
atropelando os pés cansados,
do que caminha, triunfante,
sobre as brasas dos passados
que cantaram a cada instante
os vigores jamais gozados.
~06/10/2010
No meu quarto...
eu liberto o meu eu-calado!
Falo para Galileu que a terra
ainda é Quadrada.
Dou risada da desgraça alheia,
sem medo dos que de mim riem.
Admiro o piso sujo e mal-acabado,
vejo os insetos através do buraco
da janela. Vejo o mundo através dela.
Na solidão do meu quarto,
digo aos mortos que ninguém
pode entender os vivos.
Digo que ninguém mais vive!
Respeito o isolamento alheio,
respiro fundo, grito, serpenteio.
Invento poemas ao nada,
faço viagens na imaginação,
interpreto um homem são!
No abstrato do meu quarto,
eu sou algoz, sou infinito, sou...
sou truão!
Uso termos desconhecidos,
faço versos às formigas,
investigo mortes não havidas,
mastigo as minhas feridas!
Remonto quebra-cabeças,
que jamais tiveram peças!
No interior que é o meu quarto,
sou malabarista das minhas vitórias!
Faço cores com derrotas,
e pinto o mundo com minhas botas.
Escrevo na claridade sobre o dia,
vejo pássaros sem asas voarem,
faço amizade com as baratas,
e me enclausuro no contar da hora!
Lá sou tudo que não sou aqui fora.
~18/10/2011
fevereiro 24, 2015
Céu-Inferno
Julgo-me insensível, perecível,
sem cantos, sem prantos, risível,
amargando fel do que se esgotou.
Todo o pranto que me governa,
constitui em mim assaz desalento,
pois se distancio do tormento,
perco de vista a minha lanterna.
Se vejo-te perto, sinto-me deserto.
Eis que meu fado descontente,
é pospor meu sentimento latente,
reconhecendo, quiçá boquiaberto,
que viverei a dualidade cadente
desse céu-inferno demais incerto.
setembro 24, 2014
Devir
e se norteará por vales sombrios?
Quem fará da mente lagos e rios,
em que correrão novos espíritos?
Quem dirá adeus às velhas convenções
enquanto engole todas as mundanidades?
Quem dará os ombros às verdades,
e não se esconderá das desilusões?
Há quem espere a decrepitude
de uma vida bucólica e senil.
O ofuscar dos dentes, a vicissitude,
o palácio de um mundo vazio.
Há quem não queira apenas existir,
queira o viver, queira o devir.
dezembro 06, 2012
Indelével
esperava compreender a existência.
O que era realmente isso de essência?
Só ouvira o grasnar do ganso.
Era adulta - isso realmente importa?-,
mas se sentia como uma sutil infante.
Gostava de pular corda e ver elefante.
Brincar de ciranda e comer torta.
Era do balanço que ela gostava!
Embora fosse demasiado incerto.
Enquanto ela na solidão balançava,
da sua própria existência afastava,
e percebia que uma flor no deserto,
não existia, simplesmente cativava!
novembro 08, 2012
A flor
setembro 10, 2012
agosto 20, 2012
Da noite que vai embora num trago
Trago também o mistério da escuridão.
Solidão que brota de meu perdido afago...
Apago tudo, tudo afago, toda perdição.
Outra noite, ou apenas outra desilusão;
Quão eterna é a escuridão da eternidade,
saudade, saudade, saudade: saudação
coração escuro sob lúgubre claridade.
São as luzes da cidade: noite e ausência.
Aquiescência que move a neutra visão:
Oração é? É pensamento, é demência?
Ausência, ausência, ausência: é escuridão.
Ilusão de uma noite quente. Paciência!
Leniência à noite perdida na solidão!
abril 24, 2012
Fascínio
Nada
Solidão
abril 16, 2012
Soneto da Aproximação
valorando-me tal qual um vintém.
Passava eu em meio a multidão,
sem perceber nada, nem ninguém.
Estivera eu quieto em meu canto
lendo poemas e Chopin assoviando.
Afogando minha nostalgia e pranto
nos pecados que me iam quebrando.
Tranquei-me na cave do engenho,
certo de que a emoção não sorriria.
Mil enganos da minha engenharia,
pois quanto maior meu empenho
em afastar-me do que não queria,
maior meu desejo no que desdenho.
abril 10, 2012
A pensão
havia uma pensão, que era do tio...,
que recebia pobre, rico, moribundo
a porta sempre espreitava o mundo.
Tudo se via ali, só não alcoolemia.
Ainda assim todo mundo que ali vivia,
tinha consigo um quê de distração...
Taciturnidade era proibida, ali não.
Só havia uma regra em toda a pensão:
Respeitar como quereis ser respeitado!
A frase sempre ressoava pelo saguão...
E todos respeitavam, só não o Coitado.
Foi pego. Seu crime não teve perdão.
Em sua defesa, crime de amor jurava.
Ainda assim teve sua terrível punição:
Cegar-se e emudecer-se a quem amava.
março 14, 2012
Vaidade
propenso ao mal que me venera.
Vaidade, minh'alma calma te espera,
eu, entretanto, não sinto saudade.
Enquanto tudo em mim te clama,
meu engenho, pueril e confuso,
fecha-se em si, e deixa obtuso
todo pensamento, toda chama.
Por que simplesmente não me toma?
Não emerge em meus complexos ufanos,
corroendo toda virtude que me soma?
Ou não deixa-me na paz dos enganos?
Vaidade, esse mal que me carcoma
é teu, como são teus os meus anos.
janeiro 31, 2012
Goodbye lonely day
antes de sentir a rajada de ventos
que vinham de baixo.
Era pouco atenta. E a janela
pela qual olhava seus alentos
era imensa, sem facho.
De qualquer forma, tentar nela
enxergar - de tempos em tempos,
ou ver algo abaixo,
não era tarefa fácil. A afogadela
de tudo em si, de pensamentos...
tornava o altibaixo
numa espécie de novela.
Um drama de descontentamentos,
sem príncipe, sem coaxo...
E tudo o que se revela,
intranspõe os desprendimentos
como se fosse um capricho!
Pintava-se ali a vida na tela.
O vento, o céu e os fragmentos
de voz perdiam-se no ancho.
Nada importava. Nada, nem ela.
O vento talvez, talvez momentos...
mas agora era tudo cinza, chocho.
O capitulo final se fez todo dela.
Alguém viu-na sorrir com o abalroamento,
o resto viu um pálido vermelho-mocho!