novembro 08, 2012

A flor


Oh! Terra infrutífera, reino acabado.
Tolhera de mim a flor do meu peito,
Desde então me hei sempre desajeitado,
Curando-me do mundo em meu leito.

Que há neste túmulo de solidão?
Outrora ardia em viva chama ardente,
Agora é frio, é pedra, é ilusão,
Agora é racional, é medo, é prudente.

Quem haverá de acreditar na lealdade,
Que constrói um reino e o leva ao chão?
Hei aprender que - no romper da ingenuidade -

Amor é sutiliza que não conhece ilusão,
E só quem amar com profunda verdade,
Sentirá florescer a flor do coração!

setembro 10, 2012

Poeta

[Eu]
não nasci poeta.
Nem é o poema uma
clareira.
O poeta é
um velejador,
e velador
o poema.

agosto 20, 2012

Da noite que vai embora num trago

Acendo um cigarro, e com rancor o trago,
Trago também o mistério da escuridão.
Solidão que brota de meu perdido afago...
Apago tudo, tudo afago, toda perdição.

Outra noite, ou apenas outra desilusão;
Quão eterna é a escuridão da eternidade,
saudade, saudade, saudade: saudação
coração escuro sob lúgubre claridade.

São as luzes da cidade: noite e ausência.
Aquiescência que move a neutra visão:
Oração é? É pensamento, é demência?

Ausência, ausência, ausência: é escuridão.
Ilusão de uma noite quente. Paciência!
Leniência à noite perdida na solidão!

abril 24, 2012

Fascínio


Há algo nela que me é fascinante,
Talvez os olhos, talvez os olhares,
Quem sabe o sorriso de mil pomares,
Quem sabe o pensar no distante.

Fascina-me o jeito de andar que possui,
E os lábios que provocam explosões,
O modo como fala de suas canções,
E o ser carinhoso em que constitui.

Fascina-me o beijo morno do lábio quente,
E as provocações que tão bem sabe fazer;
Fascina-me os trejeitos de mulher irreverente,

As curvas sinuosas que meus olhos sabem ler;
Fascina-me a inocência de menina contente,
Que presente faz o meu peito acelerado bater.

Nada

Que olhos são estes os teus perturbadores,
Pecaminosos, incompletos e sem devoção.
São olhos de quem sempre perde razão,
Olhos de quem não vê o mundo de cores.

Tua vista é rasa, sem nenhum prendimento,
Aterrissa na cova d’um mundo ilusório;
Olhos de quem não vê, não faz repositório
Da beleza profícua do ímpar contentamento.

Teu mundo é parco, tua lua é minguada,
Teus dias é remar contra a desilusão,
E buscar nos espinhos alguma satisfação,

Para a dor que em teu peito encontra morada.
Contudo teus olhos não lhe mostram direção,
Pois tudo o que vê é o tudo do seu nada.

Solidão

Ferina solidão, desoladora e temida,
Encontrei-lha em momento propício,
Pois minh’alma clamava o hospício,
D’um viver contente sem ter vida.

Em teu fértil terreno do ensimesmar,
Encontrei-me em águas revoltosas,
Que viagens melhores e mais perigosas,
Jamais encontraria noutro lugar.

Solidão és tu minha sectária fiel,
Em que encontro calma e devastação,
Onde me tomo de loucura e fel,

Onde, nas profundezas da emoção,
Encontro o puro néctar de mim, o puro mel,
Que as abelhas do engenho cultivarão.

abril 16, 2012

Soneto da Aproximação

Deixe-me nos vales da solidão
valorando-me tal qual um vintém.
Passava eu em meio a multidão,
sem perceber nada, nem ninguém.

Estivera eu quieto em meu canto
lendo poemas e Chopin assoviando.
Afogando minha nostalgia e pranto
nos pecados que me iam quebrando.

Tranquei-me na cave do engenho,
certo de que a emoção não sorriria.
Mil enganos da minha engenharia,

pois quanto maior meu empenho
em afastar-me do que não queria,
maior meu desejo no que desdenho.

abril 10, 2012

A pensão

No fim da rua treze, perto do rio,
havia uma pensão, que era do tio...,
que recebia pobre, rico, moribundo
a porta sempre espreitava o mundo.

Tudo se via ali, só não alcoolemia.
Ainda assim todo mundo que ali vivia,
tinha consigo um quê de distração...
Taciturnidade era proibida, ali não.

Só havia uma regra em toda a pensão:
Respeitar como quereis ser respeitado!
A frase sempre ressoava pelo saguão...
E todos respeitavam, só não o Coitado.

Foi pego. Seu crime não teve perdão.
Em sua defesa, crime de amor jurava.
Ainda assim teve sua terrível punição:
Cegar-se e emudecer-se a quem amava.

março 14, 2012

Vaidade

Desboto em minha ignóbil vaidade,
propenso ao mal que me venera.
Vaidade, minh'alma calma te espera,
eu, entretanto, não sinto saudade.

Enquanto tudo em mim te clama,
meu engenho, pueril e confuso,
fecha-se em si, e deixa obtuso
todo pensamento, toda chama.

Por que simplesmente não me toma?
Não emerge em meus complexos ufanos,
corroendo toda virtude que me soma?

Ou não deixa-me na paz dos enganos?
Vaidade, esse mal que me carcoma
é teu, como são teus os meus anos.

janeiro 31, 2012

Goodbye lonely day

"Goodbye lonely day" disse ela
antes de sentir a rajada de ventos
que vinham de baixo.

Era pouco atenta. E a janela
pela qual olhava seus alentos
era imensa, sem facho.

De qualquer forma, tentar nela
enxergar - de tempos em tempos,
ou ver algo abaixo,

não era tarefa fácil. A afogadela
de tudo em si, de pensamentos...
tornava o altibaixo

numa espécie de novela.
Um drama de descontentamentos,
sem príncipe, sem coaxo...

E tudo o que se revela,
intranspõe os desprendimentos
como se fosse um capricho!

Pintava-se ali a vida na tela.
O vento, o céu e os fragmentos
de voz perdiam-se no ancho.

Nada importava. Nada, nem ela.
O vento talvez, talvez momentos...
mas agora era tudo cinza, chocho.

O capitulo final se fez todo dela.
Alguém viu-na sorrir com o abalroamento,
o resto viu um pálido vermelho-mocho!

dezembro 31, 2011

Minhas Promessas

O Sol sua jornada terminou,
dias infindáveis passaram,
noites agradáveis acabaram.
O ano, finalmente, passou.

Deste só restam agora promessas,
das quais muitas se perderão.
Mudanças, quem sabem, virão,
quem sabe, baniremos às pressas.

Promessa, promessa, promessa...
Alguém, talvez, vá delas atrás.
Eu, porém, fico com o presente,

que tão somente a mim interessa.
Prometo apenas uma coisa, aliás...
Serei eu, e, talvez, eu somente.

abril 12, 2011

Quem sou eu?

Quem sou eu, eu sou quem?
O universo me transpassa,
e eu aqui estou sem raça,
sem cor, credo, tão sem.

Quem sou eu, eu sou quem?
Pareço-me com cada um,
entretanto não sou nenhum,
não sou, não sou ninguém.

Quem sou eu, eu quem sou?
Um joão ninguém, um josé?
O divino, o belo, o cifé?

Quem sou eu, quem estou?
Serei aquilo que chamam fé?
Não sou, apenas não sou.

março 19, 2011

As cores

A alvorada restaurou-se, enfim,
na calada doentia e indistinta.
Via tudo, e em tudo havia tinta.
Via cores, que só não haviam em mim.

Sentia-me desbotado, e incolor.
Um passageiro sem passagem,
vagando entre a paisagem
que revelava tudo, só não cor.

Desbotei-me. E o mundo passou.
Quais cores haveria de pintar,
se de tintas era eu desconhecido?

O mundo de tintas me impressionou.
O mundo passou e parecia desbotar?
Ou passei eu no mundo despercebido?

junho 03, 2010

Esqueci.

Percorro o céu, o mar profundo.
Aqueço-me entre as estrelas!
Suporto minha dor de vê-las
sorrir na noite em que afundo.

Um sopro gélido o espaço anseia.
Canto solitário o que nem sei;
Está vivo? Sou vivo? Viverei?
Ah! tolice imaginar! Vagueia.

O reflexo me confundi a mente,
Que em perigrinação não é sã.
Mente que mente, pensa, sente.

Que esquece que o esquecimento,
que perece nessa aldeia cortesã,
é tudo que há, exceto sentimento.

maio 12, 2010

O mundo como inverno!

Eis que aqui há engenho,
arte, pudor e tolerância;
Há até singela elegância,
na pintura e no desenho.

Uma espécie de legião,
cuja fronteira é vasta,
da qual a tudo arrasta,
para dentro da predição.

Um bosque vasto e sombrio,
belo e mal-acabado;
Um acorde para o fado,

que resvala no vento frio.
Um vento frio, imaginado...
Que ouvem, mas ninguém viu.