abril 16, 2012
Soneto da Aproximação
valorando-me tal qual um vintém.
Passava eu em meio a multidão,
sem perceber nada, nem ninguém.
Estivera eu quieto em meu canto
lendo poemas e Chopin assoviando.
Afogando minha nostalgia e pranto
nos pecados que me iam quebrando.
Tranquei-me na cave do engenho,
certo de que a emoção não sorriria.
Mil enganos da minha engenharia,
pois quanto maior meu empenho
em afastar-me do que não queria,
maior meu desejo no que desdenho.
abril 10, 2012
A pensão
havia uma pensão, que era do tio...,
que recebia pobre, rico, moribundo
a porta sempre espreitava o mundo.
Tudo se via ali, só não alcoolemia.
Ainda assim todo mundo que ali vivia,
tinha consigo um quê de distração...
Taciturnidade era proibida, ali não.
Só havia uma regra em toda a pensão:
Respeitar como quereis ser respeitado!
A frase sempre ressoava pelo saguão...
E todos respeitavam, só não o Coitado.
Foi pego. Seu crime não teve perdão.
Em sua defesa, crime de amor jurava.
Ainda assim teve sua terrível punição:
Cegar-se e emudecer-se a quem amava.
março 14, 2012
Vaidade
propenso ao mal que me venera.
Vaidade, minh'alma calma te espera,
eu, entretanto, não sinto saudade.
Enquanto tudo em mim te clama,
meu engenho, pueril e confuso,
fecha-se em si, e deixa obtuso
todo pensamento, toda chama.
Por que simplesmente não me toma?
Não emerge em meus complexos ufanos,
corroendo toda virtude que me soma?
Ou não deixa-me na paz dos enganos?
Vaidade, esse mal que me carcoma
é teu, como são teus os meus anos.
janeiro 31, 2012
Goodbye lonely day
antes de sentir a rajada de ventos
que vinham de baixo.
Era pouco atenta. E a janela
pela qual olhava seus alentos
era imensa, sem facho.
De qualquer forma, tentar nela
enxergar - de tempos em tempos,
ou ver algo abaixo,
não era tarefa fácil. A afogadela
de tudo em si, de pensamentos...
tornava o altibaixo
numa espécie de novela.
Um drama de descontentamentos,
sem príncipe, sem coaxo...
E tudo o que se revela,
intranspõe os desprendimentos
como se fosse um capricho!
Pintava-se ali a vida na tela.
O vento, o céu e os fragmentos
de voz perdiam-se no ancho.
Nada importava. Nada, nem ela.
O vento talvez, talvez momentos...
mas agora era tudo cinza, chocho.
O capitulo final se fez todo dela.
Alguém viu-na sorrir com o abalroamento,
o resto viu um pálido vermelho-mocho!
dezembro 31, 2011
Minhas Promessas
dias infindáveis passaram,
noites agradáveis acabaram.
O ano, finalmente, passou.
Deste só restam agora promessas,
das quais muitas se perderão.
Mudanças, quem sabem, virão,
quem sabe, baniremos às pressas.
Promessa, promessa, promessa...
Alguém, talvez, vá delas atrás.
Eu, porém, fico com o presente,
que tão somente a mim interessa.
Prometo apenas uma coisa, aliás...
Serei eu, e, talvez, eu somente.
abril 12, 2011
Quem sou eu?
O universo me transpassa,
e eu aqui estou sem raça,
sem cor, credo, tão sem.
Quem sou eu, eu sou quem?
Pareço-me com cada um,
entretanto não sou nenhum,
não sou, não sou ninguém.
Quem sou eu, eu quem sou?
Um joão ninguém, um josé?
O divino, o belo, o cifé?
Quem sou eu, quem estou?
Serei aquilo que chamam fé?
Não sou, apenas não sou.
março 19, 2011
As cores
na calada doentia e indistinta.
Via tudo, e em tudo havia tinta.
Via cores, que só não haviam em mim.
Sentia-me desbotado, e incolor.
Um passageiro sem passagem,
vagando entre a paisagem
que revelava tudo, só não cor.
Desbotei-me. E o mundo passou.
Quais cores haveria de pintar,
se de tintas era eu desconhecido?
O mundo de tintas me impressionou.
O mundo passou e parecia desbotar?
Ou passei eu no mundo despercebido?
junho 03, 2010
Esqueci.
Aqueço-me entre as estrelas!
Suporto minha dor de vê-las
sorrir na noite em que afundo.
Um sopro gélido o espaço anseia.
Canto solitário o que nem sei;
Está vivo? Sou vivo? Viverei?
Ah! tolice imaginar! Vagueia.
O reflexo me confundi a mente,
Que em perigrinação não é sã.
Mente que mente, pensa, sente.
Que esquece que o esquecimento,
que perece nessa aldeia cortesã,
é tudo que há, exceto sentimento.
maio 12, 2010
O mundo como inverno!
arte, pudor e tolerância;
Há até singela elegância,
na pintura e no desenho.
Uma espécie de legião,
cuja fronteira é vasta,
da qual a tudo arrasta,
para dentro da predição.
Um bosque vasto e sombrio,
belo e mal-acabado;
Um acorde para o fado,
que resvala no vento frio.
Um vento frio, imaginado...
Que ouvem, mas ninguém viu.
abril 27, 2010
Sem sentido!
deixar-se no tempo diminuto,
caindo num canto do estar
entre o caos e o absoluto.
Sentia-se, pois, acalentado,
n'uns braços de fulgores
e de sublimidade atado
para tudo, para açores.
Quanto mais em si perdido,
mais no mundo ia caido!
Era só pensar, e destoar.
Deixar-se de tudo acontecer,
que se aparentava crescer,
como uma daninha a germinar.
março 19, 2010
Resquícios
Abarcado no som lúdico da razão,
Viveu apenas de eternidades,
Sem segundos, sem paz, sem paixão.
Vivera como que não vivendo;
Correndo prados de glórias vis;
Enquanto se ia triste perdendo
Nos devastados sonhos sutis.
Não percebera ser mais um, apenas,
Se ludibriando com as estações,
Que iam e vinham, a duras penas.
Apenas mais um no reino de truões,
Que de saudades vive se esquecendo,
Que só ganha quando está perdendo.
fevereiro 26, 2010
O Pescador
De tudo vazio, porém compenetrado
pescando a vida muito arraigado
a valores muitos, sem nada fazer.
Buscando o todo e o completo nada,
olhando o horizonte espesso,
e perdendo-se no singelo apreço
que lhe vem da solidão calada.
Ali, nesse universo de colisão,
onde se constrói a passividade,
encontra o pescador de solidão,
a pura essência da abstracidade,
no tudo, no nada, na ilusão
do que crê ser a única realidade.
Solilóquio abstrato do si para consigo!
Nem desespero a teu olhar,
Que se me afigure espanto
Aos laços teus do enganar.
Sentimentos loucos, ufanos.
Trajados de fome e rejeição
Do que jamais te fora danos
Do que jamais te fora paixão.
Sonho, eis que ilusão isenta,
Daquele que mata e não come
A saudade perdida e sedenta!
Direi-te que o que consome:
É pão amargo que alimenta,
porém não que mata a fome.
janeiro 17, 2010
A busca
da brandura quente do verão,
a ternura que há na imensidão,
para a ti, meu amor, comparar.
No canto sutil do bem-te-vi,
que soa breve à natureza,
em toda a sua estranheza,
a tua voz lúdica percebi.
Corri ao extremo oriente,
e o nascer do sol aguardei,
pois foi lá que espreitei
teu riso resplandecente.
No chão da Tailândia achei,
o rubi de mais bela cor,
e foi nele, com muito ardor,
que teus lábios lapidei.
Não pude, porém, encontrar,
quer no tudo, quer no nada,
a beleza que há aprisionada,
no teu, amor, castanho olhar.
dezembro 30, 2009
A estação
E o silêncio reverberando dos cantos!
Em todos os olhos vejo tímidos prantos,
Em todas as faces vejo só lamentação.
Passam-se vagões, vários e tantos...
Ouço o ferro em brasa fervilhar,
Sinto o vento quente a brilhar...
Vejo os altares, mas não os santos.
Sento-me, e sinto perder a esperança!
Vão-se vagões, e outros estão a chegar.
Fico olhando aquela pobre e meiga dança,
Dos vagões que vão e deixam-se ficar,
Porém nenhum deles se me alcança...
Por que não vejo ninguém desembarcar.